quinta-feira, 5 de outubro de 2017

O TRIÂNGULO ESPANHA – CATALUNHA – UE

Talvez não seja totalmente desajustado reflectirmos hoje, dia em que comemoramos a implantação da República em Portugal, no sentido do que ocorre na vizinha Espanha onde no passado fim-de-semana uma «Jornada histórica na Catalunha deixou grandes incógnitas» para defensores e opositores (é conhecido que «Milhares de pessoas manifestam-se pela unidade de Espanha» na véspera do referendo) à ideia de independência catalã.

Um e outro lado esgrimem argumentos, mas a realidade é que o governo espanhol optou, desde o início, por uma actuação de força onde a «Polícia regional recebe instruções para desalojar e encerrar assembleias de voto», que apenas se poderia concluir com a notícia que a mesma «Polícia carrega sobre os cidadãos junto aos colégios eleitoriais», enquanto os independentistas procuram não deixar esquecer o «Relato de um dia em que as cargas policiais na Catalunha espantaram o mundo (e em que houve 90% de votos a favor da independência)» onde cerca de 42% dos 5,3 milhões de eleitores catalães conseguiram votar e 90% deles fizeram-no a favor da independência.

Desde o agravar da crise que se tem esperado algo de positivo da UE, mas «Bruxelas insiste que é problema interno de Espanha», numa forma de alheamento que levou a que o «Presidente do parlamento catalão acusa UE de estar do lado de Espanha», juntando mais uma acha para a fogueira, mesmo quando se diz que o «Governo catalão espera por bons ventos europeus».



A posição inflexível do governo espanhol parece reforçada quando o rei «Filipe VI acusa governo da Catalunha de “deslealdade inadmissível”» e recebe um tíbio apoio da UE com a notícia que os «Eurodeputados não poupam nas críticas e pressionam para que se passe ao diálogo» (secundado quando o «Parlamento português aprova voto de “preocupação pela evolução da situação política” na Catalunha») mas nada sugerem para ultrapassar o diferendo. Claro que a questão é muito sensível e ainda mais no actual quadro de enfraquecimento da UE, devendo ser tratada com cuidados extremos; mas continuar a insistir numa clara política de “dois pesos e duas medidas”, como se sugere quando o «Presidente sérvio acusa União Europeia de “dois pesos e duas medidas” na questão da Catalunha e do Kosovo», em nada ajudará qualquer dos vértices do triângulo.

Pode já ter ocorrido o «O dia em que Espanha perdeu a Catalunha» pois a isso conduziu a presença em Madrid e Barcelona de dois líderes fracos (Mariano Rajoy – líder do PP, chefia um governo minoritário de centro-direita, apenas com o apoio do Ciudadanos de Albert Rivera, após duas eleições inconclusivas e sobre o qual o «Vice da Generalitat avisa que se catalães votarem Mariano Rajoy cai» – e Carles Puigdemont – do Partido Democrático Europeu Catalão/Convergência Democrática da Catalunha (centro-direita) que preside à Generalitat apoiado por uma coligação frágil e ideologicamente contraditória que engloba o movimento Juntos pelo Sim, a Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), de Oriol Junqueras, herdeira do independentismo de 1934 e de Lluís Companys e a Candidatura de Unidade Popular (CUP), um partido da extrema-esquerda, anti-União Europeia e anti-capitalismo que chegou ao poder como uma segunda escolha e após a CUP se ter recusado a apoiar um governo chefiado por Artur Mas) e a actuação do governo central que em resposta ao apelo onde o «Presidente da Catalunha pede mediação internacional» para o diferendo já anunciou que, face à previsível declaração de independência catalã, «Madrid manda o exército para a Catalunha», numa quase repetição do ocorrido no dia 6 de Outubro de 1934, quando à proclamação da ambicionada independência, por Lluís Companys, se seguiu a violência mas também a sua rápida perda e a suspensão do estatuto de autonomia.

Sem comentários: