Talvez não
seja totalmente desajustado reflectirmos hoje, dia em que comemoramos a
implantação da República em Portugal, no sentido do que ocorre na vizinha
Espanha onde no passado fim-de-semana uma «Jornada
histórica na Catalunha deixou grandes incógnitas» para defensores e
opositores (é conhecido que «Milhares
de pessoas manifestam-se pela unidade de Espanha» na véspera do referendo) à
ideia de independência catalã.
Um e outro
lado esgrimem argumentos, mas a realidade é que o governo espanhol optou, desde
o início, por uma actuação de força onde a «Polícia
regional recebe instruções para desalojar e encerrar assembleias de voto»,
que apenas se poderia concluir com a notícia que a mesma «Polícia
carrega sobre os cidadãos junto aos colégios eleitoriais», enquanto os
independentistas procuram não deixar esquecer o «Relato
de um dia em que as cargas policiais na Catalunha espantaram o mundo (e em que
houve 90% de votos a favor da independência)» onde cerca de 42% dos 5,3
milhões de eleitores catalães conseguiram votar e 90% deles fizeram-no a favor
da independência.
Desde o
agravar da crise que se tem esperado algo de positivo da UE, mas «Bruxelas
insiste que é problema interno de Espanha», numa forma de alheamento que
levou a que o «Presidente
do parlamento catalão acusa UE de estar do lado de Espanha», juntando mais
uma acha para a fogueira, mesmo quando se diz que o «Governo
catalão espera por bons ventos europeus».
«Depois
do referendo e das cargas policiais, Catalunha entra em greve» e enquanto a
«Justiça
espanhola abre processos contra polícia e dirigentes catalães» que acusa de
desobediência, o «Líder
catalão diz à BBC que vai declarar independência “numa questão de dias”» e
pouca ou nenhuma atenção é dada às vozes menos radicais, como a da Autarca
de Barcelona quando diz que declaração de independência “não é a melhor via”.
Ainda na lógica da “parada-resposta” assiste-se à manifestação de «Milhares
nas ruas em dia de greve geral na Catalunha», ou mais precisamente a «700
mil pessoas nas ruas de Barcelona contra “forças de ocupação”», enquanto
Mariano «Rajoy
recusa negociar qualquer mediação com Generalitat» e agrava um
braço-de-ferro que força uma posição onde a «Catalunha
segue na rota da independência».
A posição
inflexível do governo espanhol parece reforçada quando o rei «Filipe
VI acusa governo da Catalunha de “deslealdade inadmissível”» e recebe um
tíbio apoio da UE com a notícia que os «Eurodeputados
não poupam nas críticas e pressionam para que se passe ao diálogo»
(secundado quando o «Parlamento
português aprova voto de “preocupação pela evolução da situação política” na
Catalunha») mas nada sugerem para ultrapassar o diferendo. Claro que a
questão é muito sensível e ainda mais no actual quadro de enfraquecimento da UE,
devendo ser tratada com cuidados extremos; mas continuar a insistir numa clara
política de “dois pesos e duas medidas”, como se sugere quando o «Presidente
sérvio acusa União Europeia de “dois pesos e duas medidas” na questão da
Catalunha e do Kosovo», em nada ajudará qualquer dos vértices do triângulo.
Pode já ter
ocorrido o «O
dia em que Espanha perdeu a Catalunha» pois a isso conduziu a presença em
Madrid e Barcelona de dois líderes fracos (Mariano Rajoy – líder do PP, chefia
um governo minoritário de centro-direita, apenas com o apoio do Ciudadanos de
Albert Rivera, após duas eleições inconclusivas e sobre o qual o «Vice
da Generalitat avisa que se catalães votarem Mariano Rajoy cai» – e Carles
Puigdemont – do Partido Democrático Europeu Catalão/Convergência Democrática da
Catalunha (centro-direita) que preside à Generalitat apoiado por uma coligação frágil
e ideologicamente contraditória que engloba o movimento Juntos pelo Sim, a
Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), de Oriol Junqueras, herdeira do independentismo
de 1934 e de Lluís Companys e a Candidatura de Unidade Popular (CUP), um
partido da extrema-esquerda, anti-União Europeia e anti-capitalismo que chegou
ao poder como uma segunda escolha e após a CUP se ter recusado a apoiar um
governo chefiado por Artur Mas) e a actuação do governo central que em resposta
ao apelo onde o «Presidente
da Catalunha pede mediação internacional» para o diferendo já anunciou que,
face à previsível declaração de independência catalã, «Madrid
manda o exército para a Catalunha», numa quase repetição do ocorrido no dia
6 de Outubro de 1934, quando à proclamação da ambicionada independência, por Lluís
Companys, se seguiu a violência mas também a sua rápida perda e a suspensão do
estatuto de autonomia.
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