No rescaldo da
noite eleitoral norte-americana até poderia dizer, como Ricardo Costa escreveu
no EXPRESSO, que «Trump
não é o princípio nem o fim do mundo. Mas é outra coisa», o que me leva a
ter uma leitura diversa duma eleição que à partida pareceria improvável, mas
nunca poderia ser apresentada como impensável.
Claro que
existe o perigo real de ver Trump transformar os EUA numa Trumpland, mas uma
observação mais atenta do fenómeno que foi o resultado da votação britânica
sobre a permanência na UE (se é que alguma vez o Reino Unido foi convictamente
parte integrante da União) e das reacções dos que já vão dando conta da
profunda diferença entre votar contra ou votar com conhecimento, talvez dentro
em pouco muitos dos que agora votaram pela “mudança” venham a perceber que isso
não existe.
Donald Trump
(e outros fenómenos idênticos que por esse mundo fora vão surgindo) é mais um
puro produto duma sociedade de consumo mediático. Trump não é um político nem
mostrou ter qualquer ideia estruturada de mudança; Trump é o Berlusconi dos EUA
(mas este também foi primeiro.ministro de Itália), se é que não será também o
Boris Johnson do Reino Unido (aquele que depois de vencer o referendo sobre o
brexit não sabe o que fazer com ele). Em resumo: Trump é Trump e a
probabilidade de defraudar completamente as esperanças que nele colocaram é
mais que grande ou enorme, é certa, pois o Trump que se apresentou ao
eleitorado com uma espécie de paladino da luta contra o establishment, mais que um seu produto é o lídimo representante do
que o mundo dos negócios tem de pior no que respeita ao laxismo e ao
oportunismo. Ao contrário do que gosta de aparentar Trump não integra o muito
apreciado paradigma do self made man
(particularmente grata à mentalidade protestante da elite WASP e mito permanente
nos EUA) nem construiu outro império que não o baseado na especulação imobiliária.
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