Foi
o artigo de Nicolau Santos, «A
caminho de uma nova e mais violenta crise», que me levou à leitura do paper de Carlos Tavares «A
CRISE FINANCEIRA: APRENDEMOS AS LIÇÕES?», onde o presidente da Comissão do
Mercado de Valores Mobiliários deixa a sua análise sobre a crise financeira
despoletada em 2007/2008.
Não
sendo um tema novo neste espaço (deixo à curiosidade e paciência individual a
pesquisa dos inúmeros posts escritos
desde 2008 sobre o assunto) o regresso ao tema justifica-se, que mais não
fosse, pelo facto de partilhar as preocupações de Carlos Tavares e muito
particularmente a formulação que delas faz Nicolau Santos quando põe a ênfase
numa possível repetição do fenómeno. Nas palavras deste, a análise de Carlos
Tavares resume perfeitamente o que temos vivido quando diz: «Os bancos deviam ser mais pequenos? Pois
tornaram-se maiores. Os Estados, famílias e empresas deviam diminuir o
endividamento? Pois estão mais endividados. Os mercados deviam ser mais regulados?
Pois não se melhorou nada. Os produtos financeiros deviam ser mais
transparentes? Pois estão de regresso os produtos cujo risco ninguém consegue
medir. Bancos, auditores e agências de rating deviam mudar de comportamentos?
Pois voltaram ao “business as usual”», ou talvez pior quando constatamos
que não só continuam a transaccionar-se enormes volumes de produtos derivados
(os tais de elevada complexidade e difícil avaliação do risco intrínseco) como
estas transacções são preferencialmente executadas fora dos mercados regulados
e completamente invisíveis nos balanços dos bancos.
Por
isso, se a análise das origens da crise feita por Carlos Tavares parece
minimamente aceitável, já a solução proposta para evitar nova crise – o reforço
da coordenação entre supervisores, bancos centrais e agentes políticos –
afigura-se resposta pífia e tão piedosa quanto as tonitruantes declarações
proferidas por esses mesmos agentes no auge da crise de 2007/2008, que, digam o
que disserem os panegiristas do costume, ainda hoje continuamos a atravessar e
cuja solução permanece dependente de decisores tíbios ou enfeudados aos
interesses da economia de casino elevada pelos banksters de todo o mundo à categoria de deus ex machina da existência humana.
Embora
não estranhe, é lamentável que Carlos Tavares, conhecedor como mostra dos
meandros e dos sofismas dos mercados de capitais, reduza à qualidade
profissional e ética dos agentes de mercado a via de solução que não pode
deixar de passar pela reformulação e endurecimento das regras de funcionamento
dos mercados (veja-se a mero título de exemplo o completo absurdo que é o de
permitir a negociação ilimitada de contratos de produtos derivados sobre bens e
serviços de produção limitada) e a recuperação da velha regra de separação
entre bancos comerciais e bancos de investimento (impedindo aos primeiros o
acesso ilimitado aos mercados de capitais e aos segundos a recepção de
depósitos do cidadão comum)... mas isso, depois da eleição dum reconhecido
especulador como Donald Trump para a presidência dos EUA, parece cada vez mais
distante.
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