sábado, 9 de julho de 2016

O RELATÓRIO CHILCOT

Foi esta semana divulgado um relatório sobre a participação britânica na Guerra do Iraque; quinze anos volvidos sobre o início da invasão do Iraque e sete sobre o início dos trabalhos, concluiu-se por terras de Sua Majestade («Relatório Chilcot: O pior pesadelo de Tony Blair divulgado esta quarta-feira») que: 1) a justificação para a guerra foi deficiente; 2) a sua base legal esteve longe de satisfatória; 3) o Reino Unido sobrestimou a sua capacidade para influenciar as decisões norte-americanas sobre o Iraque; 4) a preparação e o planeamento da guerra foram “globalmente inadequadas”; 5) a intervenção militar não atingiu os objectivos fixados.

Foi preciso esperar tanto tempo para concluir o que basicamente veio sendo dito desde a primeira hora? Alguém, de bom senso, duvidava já que a famigerada justificação para a invasão do Iraque – as famosas armas químicas cuja existência os próprios especialistas da Agência Internacional para a Energia Atómica não reconheciam cabalmente – nunca passou duma mentira construída pela conjugação dos interesses do complexo industrial-militar norte-americano e da agenda da facção neo-conservadora?

Claro que os principais actores nesta farsa, George W Bush e Tony Blair, poderão continuar a clamar a sua boa-fé e o seu estrito interesse na defesa dos direitos humanos e dos valores da democracia ocidental, mas a responsabilidade pelos milhares de mortos e pelos milhões de desalojados resultantes, além da fragmentação cultural e política dum território milenar como a Mesopotâmia, continuará a ser-lhes atribuída por inteiro... além do famigerado episódio da estranha morte de David Kelly, um dos especialistas britânicos em guerra biológica que, suspeito de ter denunciado a falsificação do seu governo, se viu vilipendiado e perseguido até uma morte (sobre este assunto ver os posts «BLAIR, O SICOFANTA» e «VOLTAVA A FAZER O MESMO») que continua por esclarecer.


O «Relatório sobre guerra do Iraque arrasa Governo de Tony Blair», mas o pior é que veio revelar quão estranho foi o papel desempenhado por Tony Blair quando ignorando, como agora se sabe, que os próprios serviços de informação britânicos previram com antecedência a fragmentação do Iraque e o recrudescimento do terrorismo optou por secundar a loucura norte-americana em nome da preservação do papel de principal aliado. Por outras palavras, em nome duma visão imperial e contra a opinião generalizada dos seus parceiros europeus, o grande estadista Tony Blair, envolveu o seu próprio povo numa guerra sem justificação.

Pouco mais haverá a acrescentar salvo o desejo de que os actuais e futuros dirigentes políticos de todo o Mundo aprendam a lição, mas o entretanto sucedido nos casos da Síria e da Líbia, a par com o conhecimento de que «Durão Barroso vai ser presidente da Goldman Sachs» – em mais uma evidente recompensa pelo seu papel na infausta decisão onde ombreou com Bush e Blair –, deixam pouca, ou nenhuma, esperança.

Sem comentários: