Foi esta
semana divulgado um relatório sobre a participação britânica na Guerra do
Iraque; quinze anos volvidos sobre o início da invasão do Iraque e sete sobre o
início dos trabalhos, concluiu-se por terras de Sua Majestade («Relatório
Chilcot: O pior pesadelo de Tony Blair divulgado esta quarta-feira») que:
1) a justificação para a guerra foi deficiente; 2) a sua base legal esteve
longe de satisfatória; 3) o Reino Unido sobrestimou a sua capacidade para
influenciar as decisões norte-americanas sobre o Iraque; 4) a preparação e o
planeamento da guerra foram “globalmente inadequadas”; 5) a intervenção militar
não atingiu os objectivos fixados.
Foi preciso
esperar tanto tempo para concluir o que basicamente veio sendo dito desde a
primeira hora? Alguém, de bom senso, duvidava já que a famigerada justificação
para a invasão do Iraque – as famosas armas químicas cuja existência os
próprios especialistas da Agência Internacional para a Energia Atómica não
reconheciam cabalmente – nunca passou duma mentira construída pela conjugação dos
interesses do complexo industrial-militar norte-americano e da agenda da facção
neo-conservadora?
Claro
que os principais actores nesta farsa, George W Bush e Tony Blair, poderão
continuar a clamar a sua boa-fé e o seu estrito interesse na defesa dos
direitos humanos e dos valores da democracia ocidental, mas a responsabilidade
pelos milhares de mortos e pelos milhões de desalojados resultantes, além da
fragmentação cultural e política dum território milenar como a Mesopotâmia,
continuará a ser-lhes atribuída por inteiro... além do famigerado episódio da
estranha morte de David Kelly, um dos especialistas britânicos em guerra biológica
que, suspeito de ter denunciado a falsificação do seu governo, se viu vilipendiado
e perseguido até uma morte (sobre este assunto ver os posts «BLAIR,
O SICOFANTA» e «VOLTAVA
A FAZER O MESMO») que continua por esclarecer.
O «Relatório
sobre guerra do Iraque arrasa Governo de Tony Blair», mas o pior é que veio
revelar quão estranho foi o papel desempenhado por Tony Blair quando ignorando,
como agora se sabe, que os próprios serviços de informação britânicos previram
com antecedência a fragmentação do Iraque e o recrudescimento do terrorismo optou
por secundar a loucura norte-americana em nome da preservação do papel de
principal aliado. Por outras palavras, em nome duma visão imperial e contra a
opinião generalizada dos seus parceiros europeus, o grande estadista Tony Blair,
envolveu o seu próprio povo numa guerra sem justificação.
Pouco mais
haverá a acrescentar salvo o desejo de que os actuais e futuros dirigentes políticos
de todo o Mundo aprendam a lição, mas o entretanto sucedido nos casos da Síria
e da Líbia, a par com o conhecimento de que «Durão
Barroso vai ser presidente da Goldman Sachs» – em mais uma evidente recompensa pelo
seu papel na infausta decisão onde ombreou com Bush e Blair –, deixam pouca, ou
nenhuma, esperança.
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