sexta-feira, 15 de julho de 2016

NICE

As comemorações de mais um 14 de Julho, em França, ficaram tristemente assinaladas por um atentado; desta vez numa pequena cidade do sul, em Nice, onde um camião irrompeu por uma multidão de pessoas que assistia ao tradicional fogo de artifício que assinalava a chegada do dia nacional francês, originando mais de oito dezenas de mortos e de uma centena de feridos.
Este foi o quadro geral com que os meios de comunicação divulgaram um atentado que algumas horas depois já começava a ser noticiado de forma bem mais integrada numa agenda política francesa cada vez mais ditada pela Front National, quando até o EXPRESSO se lhe referiu como «Forte polémica e perguntas sem resposta a seguir ao massacre de Nice» e todos ficámos a saber que Christian Estrosi – político republicano, antigo maire de Nice e presidente desta região do sudeste de França, acusado do envolvimento em dois casos de fraude e apropriação de fundos públicos e condenado por difamação – teria manifestado ao presidente François Hollande, precisamente na véspera e na sequência do anúncio do levantamento próximo do estado de emergência que vigorava desde os atentados de Paris, a necessidade de reforço dos meios de segurança.

A tudo isto se deve ainda juntar o facto de continuar ao rubro a polémica sobre as mudanças nas leis eleitorais e da contestação sindical associada só não ter sido tratada como actividade terrorista (quando o governo socialista de Manuel Valls tentou proibir uma manifestação sindical) graças ao repúdio generalizado da ideia e que em próximas ocasiões poderá não beneficiar já da mesma reacção, para concluirmos que o atentado de Nice pode constituir muito mais que uma mera acção de radicais islâmicos (aliás, ainda não reivindicada), porque mesmo apresentando um modus operandi habitual àqueles grupos parece muito mais enquadrada numa agenda visando a prorrogação do estado de emergência e a limitação às liberdades fundamentais dos franceses.

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