terça-feira, 19 de julho de 2016

ESCONDER PROBLEMAS

Já quase tudo se escreveu sobre a iniquidade das possíveis sanções a Portugal por causa da quebra da regra do limite do deficit, mas muito ainda permanece na penumbra sobre as verdadeiras razões para o processo aberto pela UE contra Portugal e Espanha quando outros estados-membros quebraram a mesma regra, ou outras, sem qualquer reacção dos eurocratas de Bruxelas. Foi assim com a França, que também ultrapassou o limite dos 3% do deficit, ou com a Alemanha que há anos vem desrespeitando o limite máximo de 6% para o superavit comercial; sobre o assunto «Juncker diz não sancionar a França "porque é a França"» e sobre a Alemanha... nem isso.

Enquanto «Espanha reage às sanções com mais 6000 milhões em impostos», por cá, «Costa diz a Bruxelas que tem verba para controlar défice» e mantém que nada irá mudar na sua estratégia e um dos seus parceiros de coligação, o «BE diz que há pressões para que processo das sanções se arraste ...», com o evidente intuito de desgastar até à inviabilidade o apoio parlamentar ao governo.

Claro que desde o início se percebeu que as “sanções” visam principalmente o “assassinato político” do governo de António Costa (nada de novo depois do que assistimos na Grécia), mas o recente empenho com que diversas figuras alemãs – Klaus Regling, o director-geral do Mecanismo Europeu de Estabilidade e «Director do fundo de resgate europeu só está “preocupado” com Portugal», Gunter Oettinger, comissário europeu para a Economia e a Sociedade Numérica que defende sanções contra Portugal, e o inefável ministro das finanças alemão, Wolfgang Schauble (ver o post «EFICIÊNCIA ALEMû) – têm vindo a terreiro defender aquela ideia justifica outra abordagem a tamanho interesse e preocupação.


Claro que todos têm em comum as suas crenças ordoliberais (além duma ancestral formação de natureza calvinista), mas neste momento creio bem que o seu principal receio é a situação do sistema financeiro alemão – ou não fosse cada vez mais evidente que o «Deutsche Bank assusta com "alertas já indisfarçáveis"», alertas que nos últimos dias se clarificaram quando o próprio «Deutsche Bank pede resgate de 150 mil milhões para a banca europeia» – e o desvio das atenções o seu principal objectivo

Conhecido desde finais de Junho que o «Fed reprova Deutsche Bank e Santander em "teste de stress"», ouvir o FMI dizer que o «Deutsche Bank é o maior risco mundial para a estabilidade», pode não passar dum eufemismo face à possível dimensão da tormenta que se avizinha. A confirmar-se que aquele banco alemão acumula produtos derivados num montante da ordem dos 70 biliões de dólares (mais de 20 vezes o PIB alemão, que em 2015 andou na ordem dos 3 biliões de euros) reduz a um quase absoluto zero o problema do incumprimento português e espanhol e a muito pouco a notícia de que o «Crédito mal parado em Itália atinge os 200 mil milhões de euros» (uns impressionantes 12% do PIB italiano) e torna bem mais perceptível porque é os políticos alemães falam tanto de Portugal... ajudados pelo FMI que parece ter esquecido o que disse há duas semanas e afirma agora no seu 'World Economic Outlook' que «Há problemas nos bancos portugueses que são um risco global».

Assim, a estratégia para enfrentar as anunciadas sanções não deve passar apenas pela sua contestação ou futuro repúdio, tem também que passar pela clara denúncia de que há muito o “kaiser vai nu”!

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