Já quase tudo
se escreveu sobre a iniquidade das possíveis sanções a Portugal por causa da
quebra da regra do limite do deficit, mas muito ainda permanece na penumbra
sobre as verdadeiras razões para o processo aberto pela UE contra Portugal e
Espanha quando outros estados-membros quebraram a mesma regra, ou outras, sem
qualquer reacção dos eurocratas de Bruxelas. Foi assim com a França, que também
ultrapassou o limite dos 3% do deficit, ou com a Alemanha que há anos vem
desrespeitando o limite máximo de 6% para o superavit comercial; sobre o
assunto «Juncker
diz não sancionar a França "porque é a França"» e sobre a
Alemanha... nem isso.
Enquanto «Espanha reage às sanções com mais 6000 milhões em impostos»,
por cá, «Costa
diz a Bruxelas que tem verba para controlar défice» e mantém que nada irá
mudar na sua estratégia e um dos seus parceiros de coligação, o «BE
diz que há pressões para que processo das sanções se arraste ...», com o
evidente intuito de desgastar até à inviabilidade o apoio parlamentar ao
governo.
Claro que
desde o início se percebeu que as “sanções” visam principalmente o “assassinato
político” do governo de António Costa (nada de novo depois do que assistimos na
Grécia), mas o recente empenho com que diversas figuras alemãs – Klaus Regling,
o director-geral do Mecanismo Europeu de Estabilidade e «Director
do fundo de resgate europeu só está “preocupado” com Portugal», Gunter
Oettinger, comissário europeu para a Economia e a Sociedade Numérica que defende sanções contra Portugal, e o inefável ministro das
finanças alemão, Wolfgang Schauble (ver o post
«EFICIÊNCIA
ALEMû) – têm vindo a terreiro defender aquela ideia justifica outra
abordagem a tamanho interesse e preocupação.
Claro que
todos têm em comum as suas crenças ordoliberais (além duma ancestral formação
de natureza calvinista), mas neste momento creio bem que o seu principal receio
é a situação do sistema financeiro alemão – ou não fosse cada vez mais evidente
que o «Deutsche
Bank assusta com "alertas já indisfarçáveis"», alertas que nos
últimos dias se clarificaram quando o próprio «Deutsche
Bank pede resgate de 150 mil milhões para a banca europeia» – e o desvio
das atenções o seu principal objectivo
Conhecido
desde finais de Junho que o «Fed reprova Deutsche Bank e Santander em "teste de
stress"», ouvir o FMI dizer que o «Deutsche
Bank é o maior risco mundial para a estabilidade», pode não passar dum
eufemismo face à possível dimensão da tormenta que se avizinha. A confirmar-se
que aquele banco alemão acumula produtos derivados num montante da ordem dos 70
biliões de dólares (mais de 20 vezes o PIB alemão, que em 2015 andou na ordem
dos 3 biliões de euros) reduz a um quase absoluto zero o problema do
incumprimento português e espanhol e a muito pouco a notícia de que o «Crédito
mal parado em Itália atinge os 200 mil milhões de euros» (uns
impressionantes 12% do PIB italiano) e torna bem mais perceptível porque é os
políticos alemães falam tanto de Portugal... ajudados pelo FMI que parece ter
esquecido o que disse há duas semanas e afirma agora no seu 'World Economic Outlook' que «Há
problemas nos bancos portugueses que são um risco global».
Assim, a
estratégia para enfrentar as anunciadas sanções não deve passar apenas pela sua
contestação ou futuro repúdio, tem também que passar pela clara denúncia de que
há muito o “kaiser vai nu”!
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