Correu célere
a afirmação produzida na passada semana pela chanceler alemã, Angela Merkel, de
que Portugal
tem licenciados a mais.
Invariavelmente
fora de contexto, a afirmação não deixa de merecer reflexão mais aprofundada
que uma contestação que se limita a ouvir que o «Ministro
da Educação afirma que país não tem licenciados a mais», ou mesmo a servir
de justificação para uma troca de acusações entre a oposição e a maioria, como aconteceu
quando o «PS pede «posição política» do Governo sobre
afirmações de Merkel sobre licenciados».
O cerne da
questão não deverá estar na percentagem de licenciados nem em distâncias para
as médias europeias (todos sabemos perfeitamente quanto este tipo de
comparações pode ser ilusório), antes na qualidade e na capacidade do País
aproveitar plenamente as juventudes que tem formado. Discutir se os jovens
devem optar pelo ensino profissional ou pelo universitário pode facilmente
descambar no desfilar de argumentos populistas ou elitistas, especialmente
quando nunca se equaciona nem se formaliza um plano de desenvolvimento a médio
prazo para uma economia que além dos óbvios sinais de debilidade apresenta características
pouco motivadoras para investidores e trabalhadores.
Verdadeiramente
preocupante é saber que «Portugal
é um dos países da OCDE onde a percentagem de jovens que não estudam nem
trabalham mais tem crescido», num sinal de total ausência de políticas de
desenvolvimento sustentadas na mais elementar necessidade de visão estratégica,
ou ver «Portugal
entre os dez países da Europa com pior classificação na Educação».
Esqueçamos os
pomposos apelos governativos ao empreendedorismo (o que quer que seja que tal
significa) num país que continua a evidenciar-se sem sinais de recuperação na
formação bruta de capital fixo (indicador das contas nacionais que mede o
investimento em activos corpóreos e incorpóreos e que, segundo
o PORDATA, regista o valor mais baixo dos últimos 50 anos), propagandeando
a necessidade de promover estratégias de excelência e de qualidade mas onde
regularmente chegam a público notícias como esta que assegura que «Banco
de Portugal contratou por convite filho de Durão Barroso».
Mesmo neste
clima de farsa, mais importante que formar, ou não, “doutores” (no jargão
popular), apostar, ou não, numa via de ensino profissional, será discutir desde
já o futuro dos jovens que estão a entrar no primeiro ciclo de escolaridade,
competindo aos poderes estabelecidos (Governo e Assembleia da República)
esclarecer se o que os aguardará serão empregos precários e mal remunerados
como os que agora estão a ser oferecidos aos jovens que tentam entrar no
mercado de trabalho.
Neste sentido, a afirmação de Angela
Merkel pode ganhar outra dimensão, facto que não lhe reduzindo a pontinha de
arrogância até serviu para se recordarem fenómenos recentes:
que além de
porem em evidência a bacoquice lusa espelham na perfeição a atávica
incapacidade das elites governantes.
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