sexta-feira, 10 de outubro de 2014

MALES MENORES

As notícias este semana difundidas – mesmo variando entre a peremptória afirmação que o «Estado Islâmico toma cidade fronteiriça de Kobani» ou mais comedida, onde o «Estado Islâmico recua em cidade que faz fronteira com a Turquia» – não reflectem apenas a realidade no terreno nem o fracasso duma solução ocidental assente na mera utilização de meios aéreos contra as forças no terreno.


Quando a administração Obama anunciou a formação duma coligação internacional contra uma organização que se intitula de Estado Islâmico e reivindica a ocupação dum território “roubado” à Síria e ao Iraque, já se sabia da sua composição heterogénea e da limitação a uma táctica limitada. Ainda não refeitos das ocupações militares do Afeganistão e do Iraque, os americanos pretendem resolver a situação mediante o simples recurso a bombardeamentos aéreos; porém, as bem equipadas forças do ISIS (sem esquecer o muito armamento capturado ao exército iraquiano, há quem assegure até que o «Armamento do Estado Islâmico vem dos EUA e da China») têm logrado resistir melhor que o fez há anos o desmotivado exército iraquiano.

Quando, no âmbito da recém-constituída coligação, «Turquia e EUA decidem colaboração conjunta contra Estado Islâmico» não ficou claro o papel daquele estado islâmico como não ficou o das petro-oligarquias da península arábica, especialmente porque destas (Arábia Saudita, Bahrein, Qatar…) derivam as principais fontes de financiamento do ISIS; certo é que as monarquias sunitas nunca esconderam o apoio aos “jihadistas” que no terreno têm combatido regime alauita da Síria (pró-iraniano xiita), sentimento que partilham com a Turquia a par com o horror à constituição dum estado curdo (é histórico o receio que os curdos sempre infundiram nos árabes).

Nesta contradição poderá estar a razão para o relativo sucesso dos “jihadistas” do ISIS, dotados de armamento pesado, na sua luta contra os “peshmergas” curdos que americanos e árabes insistem em equipar apenas com armamento ligeiro. Outros sinais deste problema surgiram quando o presidente turco «Erdogan antecipa queda de Kobani mas atribui as culpas aos EUA», ou quando se anuncia que a «Turquia não quer deixar cair Kobani mas recusa ser arrastada para a guerra».

Divididos entre o risco de armar e apoiar os combatentes peshmergas” curdos e o de ver «Bandeiras do Estado Islâmico hasteadas na fronteira da Síria com a Turquia», mesmo admitindo que «Kobani ateou revolta curda e ameaça pôr a Turquia de novo a ferro e fogo», Ancara parece não ter hesitado em manter os seus «Tanques parados a observar a guerra», escolhendo assim o que entende como o mal menor.

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