segunda-feira, 6 de outubro de 2014

CONVERSAS…


A celebração da Implantação da República voltou ontem a ser assinalada sob o opróbrio imposto pela iníqua decisão que, com o beneplácito presidencial, lhe retirou a qualificação de feriado nacional.

Não desapareceram as cerimónias oficiais nem os discursos de circunstância mas está a perder-se a memória colectiva, como o comprova o teor do discurso oficial onde «Cavaco critica promessas irrealistas e defende contenção dos défices»


A amnésia revela-se em toda a sua dimensão pois quem terá esquecido que no que respeita ao tema glosado foi o orador o responsável pelo anúncio em vésperas de eleições da maior subida de sempre nos vencimentos da função pública. Mais, quem, senão o próprio, pode esquecer que Cavaco é dos políticos com mais tempo de função de governação (entre o cargo de ministro das Finanças, Primeiro-ministro e Presidente da República acumula quase duas décadas), logo de responsabilidade acrescida na situação que o País atravessa.

Será então espantoso ouvi-lo distribuir críticas em redor como se de um virtuoso, ou recém-chegado, se tratasse?

A sobejamente conhecida faceta de Cavaco, que o acompanha desde os primórdios da sua carreira política e sempre o levou a não se comprometer e a enjeitar responsabilidades, retira muito do fundamento à questão de saber «Quem escreveu o discurso de Cavaco?» enquanto justifica as críticas que de imediato se ouviram, lembrando que o PR devia ter feito autocrítica ou que não assumiu as suas responsabilidades.

Não é pois espantoso que o primeiro magistrado da república tenha sacudido toda e qualquer responsabilidade na situação que criticou, como não foi estranho que tivesse aceite em silêncio a menorização das comemorações da Implantação da República nem a da sua própria função quando optou por receber a pensão de reforma em detrimento do inferior salário de Presidente da República.


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