A celebração
da Implantação da República voltou ontem a ser assinalada sob o opróbrio
imposto pela iníqua decisão que, com o beneplácito presidencial, lhe retirou a
qualificação de feriado nacional.
Não
desapareceram as cerimónias oficiais nem os discursos de circunstância mas está
a perder-se a memória colectiva, como o comprova o teor do discurso oficial
onde «Cavaco critica promessas irrealistas e defende contenção dos défices»
A amnésia revela-se
em toda a sua dimensão pois quem terá esquecido que no que respeita ao tema
glosado foi o orador o responsável pelo anúncio em vésperas de eleições da
maior subida de sempre nos vencimentos da função pública. Mais, quem, senão o
próprio, pode esquecer que Cavaco é dos políticos com mais tempo de função de
governação (entre o cargo de ministro das Finanças, Primeiro-ministro e
Presidente da República acumula quase duas décadas), logo de responsabilidade acrescida na situação que o País atravessa.
Será então espantoso
ouvi-lo distribuir críticas em redor como se de um virtuoso, ou recém-chegado,
se tratasse?
A sobejamente
conhecida faceta de Cavaco, que o acompanha desde os primórdios da sua carreira
política e sempre o levou a não se comprometer e a enjeitar responsabilidades,
retira muito do fundamento à questão de saber «Quem
escreveu o discurso de Cavaco?» enquanto justifica as críticas que de
imediato se ouviram, lembrando que o não assumiu
as suas responsabilidades.
Não é pois
espantoso que o primeiro magistrado da república tenha sacudido toda e qualquer
responsabilidade na situação que criticou, como não foi estranho que tivesse aceite
em silêncio a menorização das comemorações da Implantação da República nem a da
sua própria função quando optou por receber a pensão de reforma em detrimento
do inferior salário de Presidente da República.
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