Atendendo ao
discurso oficial e por incrível que possa parecer, esta semana houve debate no
Parlamento sobre a questão da reestruturação da dívida; claro que tudo decorreu
da forma mais asséptica possível com a maioria parlamentar a impor o princípio
que «Debate
público sobre a dívida sim, mas curto e depois do OE».
Reforçando na
prática a pouca ou nenhuma importância que o assunto lhe
merece. Enquanto isso a comunicação social prima por esquecer os defensores da
solução e assim evitar a divulgação dos seus argumentos enquanto dá espaço aos
críticos que questionam a ideia de «Resolver o
problema da dívida» reduzindo-a à questão da sustentabilidade (o importante
é que dinheiro para honrar os inalienáveis compromissos com os credores, mesmo
que isso implique a violação dos compromissos assumidos com a generalidade da
população) ou chalaceando sobre a auditoria à dívida (transformada numa paródia
entre dívida boa e dívida má), para concluir que o importante é não gastar mais
que o que se recebe.
Sobre o facto
da pretensa sustentabilidade assentar no pressuposto de que a economia
portuguesa precisa de crescer a uma taxa mínima de 4% ao ano (algo que nas
últimas décadas não tem sido alcançado nem pela “moderna” e “poderosa” economia
alemã) ou de que a auditoria à dívida constitui um imperativo ético e
pedagógico que revele a incúria e inépcia que conduziram as contas nacionais ao
seu estado actual, nem uma palavra.
Mesmo quando
se houve anunciar que «Portugal vai pagar 60 mil milhões em juros da dívida até 2020» (um montante quase
igual ao que “recebeu” ao abrigo do resgate da “troika”), nada parece alarmar as vozes bem informadas que insistem
no salutaríssimo princípio de que as “dívidas são para pagar” e que se “andámos
a viver acima das nossas posses”, agora temos que pagar… o pior é que a
realidade, nomeadamente a revelada na proposta de orçamento para 2015 onde os «Gastos
em estudos sobem 32% para 766 milhões» e o aumento dos consumos intermédios
já ultrapassa as “poupanças” realizadas nos anos anteriores,
mostra cada vez mais que é a máquina da Administração quem tem vivido acima das
nossas posses.
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