Na semana
passada fomos informados, com a jactância e a presunção habitual, que numa
operação mais ou menos secreta para o grande público (através dum IPO na Bolsa
de Lisboa) foram os «CTT
vendidos a "investidores do melhor que há"».
Depois de em
final do ano passado ter começado a seguir o exemplo de Inglaterra e Bélgica,
vendendo 70% do capital a 5,52€ por acção, acaba agora de completar o quadro
vendendo o restante a 7,25€ por acção. Sem entrar em demais considerandos sobre
a valia da alienação duma empresa que mais que prestar um serviço constitui (ou
devia constituir) um património inestimável na prossecução do fundamental papel
de coesão social, constata-se que o grande negócio se traduziu em “entregar”
quase um 1/3 da empresa com um desconto superior a 7% (na véspera as acções dos
CTT cotaram a 7,81€) aos tais “investidores do melhor que há”.
Depois de na
primeira fase terem sido “premiados” o «Goldman Sachs e Deutsche Bank com 7% dos
CTT» ao verem
disponível uma valorização superior a 40% (diferença entre os 5,52€ a que
compraram e os 7,81€ da cotação, sem falar na generosa distribuição de lucros),
foi agora a vez doutros que como a «UBS
e Fidelity Management compraram 2% dos CTT na segunda fase de privatização»
compraram a desconto.
Quem
seguramente não ficar a ganhar são as populações quando começarem a ver
encerrar mais estações e a ter que pagar mais pelo serviço postal (a razão
fundamental dos CTT), mas a que menos importa à actual administração e aos
novos accionistas cujo verdadeiro interesse será o de aproveitar a reputação de
credibilidade que, de norte a sul do país, gerações de trabalhadores garantiram
para começar a impingir aos pequenos aforradores arriscados produtos
financeiros em substituição dos confiáveis certificados de aforro a que estes
estavam habituados, ou não fossem eles bancos e fundos de investimento.
E para quem
julgue tudo isto natural também não deverá espantar que Sérgio Monteiro – o responsável governativo, com o
cargo de secretário de Estado das Comunicações, que deveria ser o principal
zelador do interesse geral mas se revela afinal mais preocupado com os negócios
que se poderão concretizar a expensas desse interesse – tenha afirmado que o «"Exemplo
dos CTT deve inspirar muitos outros grupos empresariais"».
Sem comentários:
Enviar um comentário