segunda-feira, 15 de setembro de 2014

COMPETITIVIDADE, PARA QUE TE QUERO?

Poucos dias volvidos sobre a grande notícia de que o «Portugal pós-troika voltou a ganhar competitividade», prontamente aproveitada por governantes e seus apoiantes (como quando o «CDS-PP diz que subida no ranking da competitividade é “prova de confiança” na economia») para venderem a ideia que tudo funciona como no melhor dos mundos.

O ministro da Economia, Pires de Lima, chegou a afirmar que a «Subida no ranking da competitividade prova que a "economia ganhou"»...


…algo que até em função da definição fixada pelos promotores do indicador (o World Economic Forum define a competitividade como o conjunto de instituições, políticas e factores que determinam o nível de produtividade dum país) deixa antever alguma melhoria num indicador muito utilizado na formação dos salários – a produtividade.

Pouco tempo antes desta “prova de confiança” na economia, foi notícia que o «Governo vai propor aumento do salário mínimo»; embora dando a “entender que pretende fixar o salário mínimo de forma plurianual e ligado a critérios de produtividade” seria de esperar algum reflexo positivo na fixação do novo valor.

Porém, ao ouvir agora a invocação do argumento que a «Queda de preços pode travar aumentos de pensões e salários», não se pode deixar de sorrir e lembrar outras aberrações históricas em torno da questão da evolução salarial, de que a mais moderna – a associação com a produtividade – nem sequer será a mais absurda.

Nesse capítulo, a palma de ouro terá que ser atribuída à famigerada ideia, lançada na década de 1980, de associar a evolução salarial à inflação esperada. Para se ter ideia do verdadeiro absurdo basta recordar que a inflação esperada é um indicador construído para a produção de projecções macroeconómicas (muito utilizado na elaboração do Orçamento do Estado), cujo resultado deriva mais das expectativas dos governos que da realidade económica, que conheceu o seu apogeu num período de regressão na evolução das taxas de inflação e que foi prontamente aproveitado pelas associação patronais para antecipar os ganhos resultantes dum crescimento mais reduzido dos salários.

Já a ideia de associar os salários à produtividade, aparentemente menos ridícula, esbarra na própria definição do indicador de comparação. A produtividade apenas pode ser avaliada “ex-post”, a sua determinação – rácio entre a quantidade de bens produzidos e a conjugação dos factores produtivos capital e trabalho – está longe de resultar num indicador consistente, pois basta uma ligeira alteração da composição dos factores capital e trabalho para originar resultados muito diferentes mas sempre independentes da vontade de quem apenas vende a força de trabalho, além de que pode (como o faz Carvalho da Silva no artigo «O empobrecimento competitivo» quando lembra que «[a]s roças de café de São Tomé e Príncipe já foram muito "competitivas"») ser associado a fases do capitalismo, como a esclavagista, julgadas extintas.

Em resumo: acalmem-se os que rapidamente aplaudiram o resultado da subida no ranking da competitividade do WEF, pois como escreveu Viriato Soromenho Marques no artigo «Futuro exíguo», “nenhum ranking internacional de competitividade substitui a decisiva missão da política, que é a de garantir o futuro da comunidade de destino a que chamamos Portugal e os que pensam ver na generosa oferta da subida do salário mínimo algum sinal de moderação na política económica e social deste governo, pois além do valor agora proposto não repor sequer o poder de compra perdido ainda se encontrará rapidamente limitado pela conjuntura deflacionista que (inexplicável na óptica ordoliberal imposta por Berlim) a Zona Euro atravessa.

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