Lamentavelmente, mas a realidade
é o que é, um recente estudo do INE coloca o «Risco
de pobreza em Portugal no nível mais elevado desde 2005» só pode ter sido
recebida sem espanto, tanto mais quando em simultâneo se assegurou que a «Diferença
entre muito ricos e muito pobres continuou a subir em Portugal».
Na prática,
como refere o título do próprio estudo (18,7%
em risco de pobreza em 2012), quase um em cada cinco portugueses corre
risco sério de pobreza.
Como se esta
situação não fosse suficientemente grave, outro dado constante no estudo agrava
ainda mais este cenário, quando se constata que segundo a condição perante o
trabalho aquele risco ultrapassa os 40% para os desempregados e atinge quase os
30% para os inactivos, grupo que integra os jovens que terminada a escolaridade
nunca conseguiram aceder ao mercado de trabalho para poderem sequer adquirir a
classificação de desempregados a par com os que já deixaram de procurar
trabalho.
Em resumo,
além do quadro geral traçado o estudo revela ainda que a distribuição dos
rendimentos não tem parado de se agravar:
pois mesmo quando
o sinal de pequena melhoria transmitido pelo coeficiente de Gini (medida de comparação de toda a distribuição dos rendimentos
entre os diferentes grupos populacionais) rapidamente se constata que os 20%
mais ricos têm rendimento 6 vezes superiores aos 20% mais pobres e que este
diferencial quase duplica quando se verifica que os 10% mais ricos têm
rendimentos quase 11 vezes superiores aos 10% mais pobres.
Embora
isso muito custe a Camilo Lourenço (ver o artigo «Vamos lá falar da pobreza», onde o
autor, sem conseguir negar que o «…maior contributo
para o agravamento das taxas de pobreza
veio dos jovens (24,2%) e dos desempregados (40,2%)»
prefere salientar que a «…nossa pobreza radica nos erros de política económica, cometidos
nas últimas três décadas»), dificilmente a política da austeridade expansionista escapará
ao papel de principal suspeito do cenário de crescimento da pobreza, tanto mais
que o crescimento do risco de pobreza entre a classe dos inactivos é um claro
reflexo da confrangedora situação da geração dos trabalhadores jovens sem
acesso ao mercado de trabalho e empurrados para trabalhos precários e mal
remunerados.
Tudo isto é triste, tudo isto é a realidade para que foi atirada
uma geração onde «Cerca
de metade dos jovens europeus não consegue deixar a casa dos pais» e que se
assumem «Pessimistas
com o futuro, desconfiados com o poder»,
fenómeno de que muito se voltará a falar no rescaldo das próximas eleições
europeias e da ascensão das direitas populistas e xenófobas.
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