terça-feira, 11 de março de 2014

AGORA…???

Foi com um sentimento misto, entre o espanto e a revolta, que li as referências a uma proposta onde «Notáveis de esquerda e de direita apelam à reestruturação da dívida portuguesa».

Espanto, porque, segundo a notícia, a iniciativa junta personalidades da direita e da esquerda, facto assinalável quando horas antes o próprio «Cavaco Silva volta a apelar ao entendimento entre os partidos» dizendo que «"É estranhíssimo que Portugal seja o País da Europa onde o diálogo entre as forças políticas é mais difícil"», numa clara afirmação do que Governo e Presidência da República têm recusado ouvir: a dívida portuguesa é impagável!

Revolta, porque desde o anúncio da política de resgates para a Zona Euro que venho denunciando neste espaço não apenas a respectiva inadequação mas principalmente a óbvia necessidade de incluir iniciativas visando a reestruturação da dívida como passo fundamental para a resolução do problema. No dia 27 de Março de 2011 e na sequência de mais uma reunião dos líderes europeus, escrevi no “post«BRICOLAGEM» que: «Decorrido quase um ano sobre a intervenção decidida a favor da Grécia – com o objectivo de salvaguardar aquele estado-membro das dificuldades financeiras resultantes duma forte subida das taxas de juro da sua dívida soberana – e cerca de seis meses sobre idêntica actuação a favor da Irlanda, os líderes europeus parecem continuar sem entender a origem e a verdadeira essência do problema que têm de enfrentar.

Persistindo não só numa abordagem individualizada – tratando cada estado-membro como um problema isolado – mas principalmente na aplicação de uma estratégia manifestamente desajustada para a dimensão e para o real objectivo dos acontecimentos, a Comissão Europeia, o BCE e os estados da Zona Euro mais não têm feito que adiar o problema, talvez na vã esperança que o tempo resolva a sua própria falta de capacidade. Persistindo na negação da existência duma estratégia financeira concertada contra o euro (sirva esta para escamotear as fragilidades do dólar americano ou da libra inglesa, ou enquanto actuação meramente predatória de ataque aos mais fracos para a realização de maiores lucros), recusando-se a admitir o fracasso da introdução da moeda única como factor gerador de convergência entre as economias da Zona Euro, bem como qualquer hipótese de actuação firme e concertada de oposição a quem especula contra a moeda europeia e preferindo apontar como responsáveis (e últimos pagadores) os cidadãos dos estados-membros mais flagelados, os líderes europeus, sob pressão da Alemanha, têm pactuado e contribuído abertamente para o alastramento da crise.»

Pouco depois, em Abril do mesmo ano, escrevia no “post” «CAMINHOS COM FUTURO» que a opção de reestruturação da dívida sendo «… tão válida e viável quanto qualquer outra, terá sempre que incluir três alterações significativas:

  • uma redução do capital em dívida (e isto é precisamente o que os credores mais temem e por isso é que tentam impor a presença do FMI como garante de que tudo, mas mesmo tudo..., será feito para tal não ocorra);
  • um aumento no prazo de amortização do capital (mesmo após a sua redução);
  • uma taxa de juro tendencialmente próxima da taxa do BCE, ou seja uma taxa muito inferior à aplicada à Grécia e à Irlanda (6% ou mais);

salvo o que o processo de resgate se assemelhará mais a uma asfixia que a um verdadeiro auxílio e então, a prazo, os credores voltarão a sentir os mesmos receios, pois as economias do sul da Europa (Espanha incluída) não dispõem de condições próprias para assegurar crescimentos sustentados e persistentes no tempo suficientes para assegurarem o pagamento da totalidade das dívidas acumuladas.

Acrescente-se ainda que parte destas dívidas serviram (e continuarão a servir no futuro) para assegurar os superavites das balanças comerciais dos parceiros europeus (e principalmente da Alemanha) que agora fomentam entre as opiniões públicas nacionais a ideia de que os países do sul têm vivido acima das suas possibilidades, mas a cuja capacidade de consumo devem boa parte do seu crescimento económico.»

Assim sendo e depois de tantas vezes ter abordado o assunto, esta iniciativa apenas pode ser entendida como débil e tardia, pouco contribuindo para minorar os prejuízos acumulados…
  

…e ainda menos para prevenir os futuros.

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