sábado, 22 de março de 2014

DOLOROSAS

De forma tímida, quase envergonhada, surgiu esta semana uma reacção diferente ao já célebre Manifesto dos 70.

Não me estou a referir ao documento onde «Economistas internacionais apoiam reestruturação da dívida» nem sequer à óbvia reacção sintonizada, onde o «Governo diz que apoio internacional ao Manifesto dos 70 tem pouco relevo» e o «PSD desvaloriza apoio estrangeiro ao Manifesto dos 70», antes a algo bem mais singelo e menos adequado às manchetes jornalísticas; um artigo de opinião assinado por André Macedo, o editor do DINHEIRO VIVO, que junta ao debate a questão da dívida privada.

Mesmo que se entenda que a questão da crise da dívida pública denominada em euros é em grande medida uma questão de natureza e dimensão europeias e que as chamadas soluções nacionais, como a da “austeridade expansionista”, apenas contribuem para agravar, é inegável que a par das soluções que venham a ser gizadas na dimensão comunitária, outras (mais idênticas ou mais diversas) de dimensão nacional terão que ser engendradas para debelar a não menos importante questão do endividamento das famílias e das empresas.


Como apropriadamente recorda o artigo só a «…dívida das empresas ultrapassa 155% do PIB e não há maneira de baixar; é o maior fracasso deste período de ajustamento e no entanto pouco se fala dele» e as soluções primam por vagas quando não se resumem ao simples deixar passar o tempo na expectativa que a recuperação (pelos vistos outra maior que a que Governo e apoiantes apregoam) venha a resolver naturalmente o problema. O pior é que não só o montante é exorbitante como as estruturas familiares e o tecido empresarial, em especial as PME e as microempresas, padecem do mesmo mal que o sistema financeiro – uma crónica ausência de capitais próprios – cujo encobrimento em nada tem contribuído para a construção duma solução que, tarde ou cedo, culminará na inevitabilidade da tal reestruturação que a ortodoxia do poder recusa e que o tempo apenas tornará mais dolorosa.

Curioso em tudo isto é que, num claro reconhecimento dos erros que levaram à crise que atravessamos, foi notícia, também nesta semana, o acordo europeu assegurando que no futuro os «Bancos já não serão salvos por contribuintes», mesmo que numa análise mais cuidadosa se devesse dizer que com o «Parlamento e Conselho de acordo. Falta o resto...»

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