Não tendo por
hábito usar este espaço para a mera reprodução de opiniões de terceiros
proponho-me hoje quebrar essa regra a propósito dos comentários que na
comunicação social têm surgido a propósito do “Manifesto dos 70”.
No “post” anterior deixei uma reacção a
quente sobre o documento e a sua ideia central; agora, depois das reacções do
primeiro-ministro e dos muitos que saíram à liça em defesa da “sua dama” – como
foi o caso de José Gomes Ferreira que referindo (e bem) que os subscritores do
Manifesto pouco ou nada contribuíram para uma verdadeira reforma do Estado ou
para acabar com o ignominioso sistema de rentista, conclui a sua «Carta
a uma Geração Errada» com o apelo para que os subscritores do Manifesto
deixem os mais novos trabalhar, expressão duplamente infeliz porquanto recorda a
que usou o ex-primeiro-ministro Cavaco Silva cujos governos foram os grandes
responsáveis pela opção por um modelo de crescimento económico sustentado nas
grandes obras públicas fortemente responsáveis pelo crescimento da dívida
pública enquanto esquece (ou espera que esqueçamos…) que a geração dos mais
novos é aquela que actualmente governa o País com os resultados que estão à
vista – parece mais do que justificado deixar aqui o testemunho (hoje
publicado no DN) de um dos subscritores do Manifesto, Viriato Soromenho
Marques, personalidade que além de há muito criticar o modelo do resgate sempre
enquadrou a questão na dimensão do quadro europeu onde o País se insere e no
respeito da diversidade, porque…
«Os homens não são todos iguais
O manifesto propondo a
reestruturação da dívida foi conhecido no mesmo dia em que o INE revelava os
resultados da política levada a cabo pela troika com a cumplicidade
entusiástica deste governo. Como se fosse uma lista de baixas numa guerra,
ficámos a saber que o PIB do país recuou ao nível do ano 2000 e o emprego
tombou até ao ano de 1996. Em dois anos e meio foram destruídos 328 mil
empregos. Tudo isto para combater uma dívida pública bruta excessiva, que, no
mesmo período, subiu de 94% para quase 130% (ultrapassando em 15% as precisões
da troika)! Este manifesto limita-se a olhar a realidade de frente: o País
caminha para o suicídio, e é preciso mudar o rumo. No quadro europeu. Pesando o
interesse de Portugal, mas também o interesse comum do projecto europeu, de que
muita gente, em Bruxelas e Berlim, parece ter-se esquecido. Perante isso, o
primeiro-ministro, e uma escassa legião de escribas auxiliares, acusam os
subscritores do manifesto de "pôr em causa o financiamento do país",
de "inoportunidade", e, até, de falta de patriotismo. No século xix,
dois grandes europeus, Antero de Quental e Nietzsche escreveram, ao mesmo
tempo, quase a mesma coisa: o que separa os homens é a maior ou menor
capacidade que têm de "suportar" a verdade de que depende a dignidade
da vida. A verdade dói, mas a mentira mata. Tenho muito orgulho em ter assinado
este manifesto ao lado de Manuela Ferreira Leite, ou Bagão Félix, pois a
diferença crucial não é entre esquerda e direita, mas entre a verdade e a
mentira. O que une este governo, e o atual diretório europeu, é a ligação
umbilical entre o seu poder e a mentira organizada. O país e a Europa só
poderão sobreviver se forem resgatados de líderes medíocres, com fobia da
verdade.»
…e são cada
vez em maior número os que rejeitam os malabarismos canhestros, como o de
Passos Coelho que já vai dizendo que afinal os «Cortes
temporários de salários e pensões são para durar», dos que dizem o que for
preciso para se perpetuarem no poder.
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