sábado, 8 de março de 2014

CONCENTRAÇÃO DA RIQUEZA

Terminado de ler o artigo de Nicolau Santos, «BELMIRO E OS TRABALHADORES ALEMÃES», no qual a sua assumida costela de keynesiano (o conjunto da suas crónicas é regularmente publico num “blog” do EXPRESSO intitulado precisamente «Keynesiano, graças a Deus») o leva a criticar abertamente a afirmação noticiada pelo NEGÓCIOS de que aquele capitão de indústria afirmou que os «Salários só podem aumentar quando portugueses aumentarem produtividade», respigo o parágrafo final: «Há muitas razões para a baixa produtividade da economia portuguesa. Mas as principais não têm a ver com os trabalhadores, ao contrário do que Belmiro de Azevedo disse. Mas como uma inverdade, muitas vezes repetida, passa a verdade, é bom que se desmonte a muito papagueada inverdade», que sintetiza as razões que contrapôs à afirmação e justifica o aprofundamento da questão.

Como noutras ocasiões escrevi (ver os “posts” «SOBRE A PRODUTIVIDADE», «PORTUGAL – UM RETRATO ECONÓMICO» e «IMAGENS FATAIS») tornou-se moda atirar aos incautos o chavão da fraca produtividade para justificar as políticas de benefício do capital, como se a produtividade não fosse fruto da conjugação de dois factores (trabalho e capital) e cada vez mais influenciada pelo tipo de bens produzidos (como refere Nicolau Santos) e pelos preços praticados em diferentes mercados.


A preocupação de Belmiro de Azevedo insere-se na mesma linha de pensamento que levou, quase em simultâneo, a ouvir-se no Parlamento da boca do primeiro-ministro Passos Coelho que «Não podemos regressar aos salários e pensões de 2011», mas não reflecte minimamente a realidade duma economia em crise onde as maiores fortunas continuam a crescer (segundo a mais recente lista da Forbes, Américo Amorim, Soares dos Santos e Belmiro de Azevedo viram as suas fortunas aumentadas em cerca de 17%) e que só no caso de Américo Amorim representa 2,5% do PIB nacional, algo que na liberal América só é alcançado pelo conjunto das cinco maiores fortunas.


Dito isto será preciso voltar a repetir que o que desde a primeira hora está em curso não é um processo de recuperação da economia nacional (fragilizada precisamente pelos mesmos que pretendem agora apresentar-se como os salvadores), antes um despudorado processo de concentração da riqueza nacional nas mãos de um pequeno número de privilegiados?

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