A propósito do visível agravamento da crise do “subprime”, escrevi no “post” «HAVERÁ FUTURO NA CRISE?», em Setembro de 2007 e um ano antes da falência do Lehman Brothers, que «...é cada vez maior o número de economistas que apontam a necessidade de novas formas de abordagem para o conhecido ciclo expansão – recessão – expansão que as economias mais desenvolvidas se habituaram a registar nos últimos anos», mas quatro anos volvidos pouco ou nada foi feito no sentido dessa nova abordagem.
Com as atenções agora focadas na dívida pública europeia e nas vésperas dum segundo resgate da dívida grega, os mentores das políticas restritivas como única via para o reequilíbrio orçamental continuam a ser ouvidos e reverencialmente seguidos a ponto de nem o bem presente exemplo da degradação da situação económica grega na sequência de sucessivas medidas de austeridade parecer suscitar a mínima dúvida. Falhos de ideias e do mais elementar sentido crítico, os políticos europeus insistem nas soluções e nos modelos que originaram e estão a agravar uma crise que está muito além da mera debilidade e excesso de gastos das economias periféricas da Zona Euro.
Há semelhança do que ocorreu nos EUA quando a crise global foi considerada uma mera crise de liquidez, também na Europa se confundem os sintomas com o verdadeiro foco da infecção – a alavancagem financeira desmedida, facilitada pela desregulamentação tão querida dos ideólogos neoliberais – enquanto, á boa maneira medieval, se prescrevem sangrias para purificar um doente que na ausência de recuperação visível será sangrado até à morte.
Sustentados no primado dos “mercados” e no dogma de que os créditos têm que ser saldados a qualquer custo, os apólogos neoliberais não admitem sequer a hipótese de se aprestarem a matar a galinha dos ovos de ouro... e que depois desta pouco restará para se alimentarem. Prescrevem reduções de salários e de contribuições sociais, como se aquelas não originassem uma redução das receitas fiscais e esta não implicasse um agravamento das dificuldades de pagamento da dívida, que logo que detectada é prontamente combatida com novas reduções, sem que os efeitos indesejados sejam minimamente atenuados por medidas complementares e orientadas para o crescimento das economias.
Desconhecendo os alvos para que deveriam orientar as suas iniciativas, os líderes europeus insistem em disparar em quase todas as direcções na expectativa de, agradando aos detentores do poder financeiro, assegurarem o principal objectivo que é o da sua manutenção no poder.
Não espanta pois que, na ausência de conhecimentos insistam no estafado argumento de que as medidas propostas constituem a única via para a resolução da crise, mesmo quando aquelas nunca integraram os programas políticos ao abrigo dos quais foram eleitos. Os mais recentemente sujeitos a processo eleitoral vão, sem rebuço, ao despudor de aplicar medidas que durante as campanhas eleitorais juraram repudiar, pelo que se justifica abordar em seguida a questão de avaliar os potenciais efeitos da crise económico-financeira no plano dos valores democráticos.
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