Ontem, além do recurso à imagem do Titanic para deixar bem vincado o grande naufrágio que se anuncia, José Manuel Pureza expressou no seu artigo semanal de opinião no DN quatro razões para explicar a situação actual, através doutras tantas notícias respigadas da imprensa e assim enumeradas: «Primeira: a Fitch decidiu baixar o rating de Portugal para "lixo" «…». Segunda notícia: os juros da colocação de dívida com maturidade de dois anos, ontem registados, subiram em Portugal e atingiram máximos históricos (118%) na Grécia. Terceira notícia: a Alemanha não conseguiu colocar em mercado metade da dívida a 10 anos que pretendia «…» Quarta notícia: a greve geral em Portugal registou uma mobilização sem precedentes em todos os sectores».
Trata-se duma perspectiva de análise adequada à dimensão europeia da crise, mas como esta transcende em muito a dimensão do nosso continente, não só pela sua génese se localizar nos EUA (recorde-se o já quase esquecido rebentamento da bolha do “subprime”) mas principalmente pelo efeito de avalanche provocado pela incomensurável alavancagem financeira que a desregulamentação mundial potenciou, permito-me acrescentar mais uma pequena achega à muito clara análise de José Manuel Pureza, chamando a atenção para mais uma notícia desta semana: o «Supercomité do Congresso falhou acordo para reduzir o défice orçamental»; traduzido em linguagem simples significa que na falta de acordo serão aplicados cortes genéricos sobre a despesa, incluindo a área social e a militar, um pouco à maneira da receita de austeridade europeia, num momento em que a dívida norte-americana, num valor estimado de 15 biliões de dólares, já iguala o seu produto interno…
Do lado de lá do oceano, como do lado de cá, campeia a mais grosseira incompetência e cegueira política, habilmente manipulada por uns poucos que investindo milhões alimentam a esperança de ganhar biliões à custa dos sacrifícios e da degradação das condições de vida da larga maioria da população mundial.
Quando já não é só a Europa que arde e o Japão que se desmorona, o rombo na América torna-se evidente e cada vez menos se vislumbra o tempo e o modo como a actual corrente de pensamento neoliberal[1] irá evitar o naufrágio dum modelo de crescimento que há muito deixou de assegurar os valores mínimos da civilização humana.
[1] Que além de responsável pelo dogma do equilíbrio orçamental insiste no absurdo de afirmar que não existem alternativas, mesmo quando confrontada com argumentos como os ontem avançados por Stiglitz (prémio Nobel da Economia em 2001 ex-vice-presidente do Banco Mundial) à margem duma conferência que proferiu na Galiza, que não hesitou em afirmar que a «”Austeridade é receita para suicídio económico”», ou os expressos no artigo «Uma greve pela Europa» de Viriato Soromenho-Marques.
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