Não foram precisas sequer duas semanas para ver que a «Crise da dívida regressou em força à zona euro», demonstrando na prática a inutilidade da última cimeira europeia e confirmando uma vez mais a irrelevância das decisões dos líderes europeus[1] para conter algo cuja essência desconhecem. Prova disso mesmo é um artigo de opinião[2] assinado pelo Presidente do Conselho Europeu, Van Rompuy, no qual este preocupa em separar a moeda única da dívida pública, como se ambas não fossem partes do mesmo problema e não fosse o modelo de gestão da união monetária desajustado para períodos de crise como a que vivemos.
Em reconhecimento disso mesmo já começam a surgir aqui e ali uma ou outra opinião alertando para a necessidade de revisão daquele modelo e, por acréscimo, do conjunto da UE.
Estranho é que os principais responsáveis por aquela união económica, Herman Van Rompuy ou Durão Barroso, continuem a insistir numa política de evolução na continuidade – seja quando negam as razões estruturais da crise ou quando se lê que «Durão apela a mudanças e expansão do fundo de resgate» - quando o mundo em redor se revela cada vez menos receptivo a meros paliativos.
A conclusão hoje continua a ser a mesma que formulei em Março, no “post” «BRICOLAGEM», quando chamei a atenção para a clara necessidade de repensar todo o modelo de financiamento dos estados ocidentais que, depauperados por uma errada política de desoneração fiscal das empresas e das famílias com rendimentos mais elevados (em nome da ideia que assim se estaria a estimular o investimento) e pela contracção do produto interno (consequência de períodos de crescimento anémico das respectivas economias) encontraram a solução no endividamento junto do sector financeiro, esquecendo que este apenas serve os interesses de ganho dos accionistas dos bancos e nunca o interesse geral da sociedade. Este apenas será satisfeito quando o endividamento público for assegurado directamente pelos bancos centrais, medida que além de contribuir decisivamente para a redução da atractividade especulativa daquela dívida ainda ajudará a reduzir a forte alavancagem a que o sector financeiro a submeteu.
Curiosamente, ou não, já se começam a encontrar entre os especialistas algumas opiniões nesse sentido, como se pode constatar por notícias como esta do NEGÓCIOS que fazendo-se eco dum artigo de opinião assinado por Paul De Grauwe, professor na Universidade de Louvaina e habitual conselheiro da Comissão Europeia, e publicado no FINANCIAL TIMES[3], afirma que «Só o BCE pode travar o contágio da crise da dívida».
[1] Manda a verdade que se diga que o comportamento irresponsável dos políticos norte-americanos sobre a questão do aumento do limite do défice público também não ajudou em nada a situação europeia; não por ter relembrado a delicadeza do problema, mas principalmente por ter aumentado a insegurança nos meios financeiros e por ter revelado maiores debilidades daquela economia que as anunciadas nos discursos oficiais.
[2] O artigo foi publicado pelo LE MONDE, sob o título «"Nous vivons une crise non pas de la zone euro mais de l'endettement public"».
[3] O artigo em causa intitula-se precisamente «Only the ECB can halt eurozone contagion».
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