quarta-feira, 10 de agosto de 2011

DIAS DE BRASA


A avaliar pelas notícias, estaremos a viver um novo período de grande agitação, quer nos mercados financeiros que pressagiam novo ciclo de quebras nas cotações, nos meios governativos das grandes economias que depois da “maratona” negocial registada em Washington conhece agora um novo ciclo de rondas e contactos telefónicos entre os líderes do G7 na tentativa de conter os estragos provocados pela irracionalidade da luta política nos EUA e de nova vaga de ataques às dívidas públicas denominadas em euros, quer no sentido mais literal do termo em alguns centros urbanos da velha Albion..


Enquanto o touro de Wall Street[1] aparece novamente em declínio é a quadriga de Ares[2] que parece brilhar no cenário britânico; pelo menos é o que se pode inferir das notícias e das imagens que nos chegam daqueles distúrbios. Pena é que naquelas notícias seja invariavelmente referida a tese oficial da polícia e do governo de David Cameron, mas nem uma palavra sobre dois factos que me parecem dignos de nota: a elevada taxa de desemprego que em Inglaterra atinge a faixa etária dos 18 aos 25 anos, e em especial a comunidade negra onde a taxa é da ordem dos 50% contra apenas 20% nas outras comunidades, e a recente fragilidade da polícia devido às revelações associadas ao famigerado caso das escutas ilegais efectuadas para a imprensa sensacionalista. 

Com as televisões e os jornais cheios de imagens de Londres em chamas e o disseminação dos motins para outras localidades inglesas começa a tornar-se impossível reduzir os acontecimentos a meros actos de vandalismo e aqui e ali vão surgindo óbvias comparações com os movimentos dos jovens nos países islâmicos. Em comum terão não apenas a idade média dos intervenientes e o uso dos meios tecnológicos (facebook, twitter, sms e internet) para a sua mobilização. Na Europa rica ou no Maghreb pobre, o cerne do problema parece estar numa juventude sem emprego e sem perspectivas de futuro (muito em especial do futuro que a publicidade das grandes companhias usam para fomentar as suas vendas) a que inevitavelmente se adiciona a fragilidade de toda uma sociedade que actualmente sofre os efeitos nefastos das ineptas políticas anti-crise decididas pelos ineptos dirigentes políticos que confrontados agora com a revolta produzem afirmações como esta noticiada pelo EXPRESSO e onde «David Cameron diz que partes da sociedade estão doentes».


Mas, pior que tudo isto continua a ser a imagem de absoluto desnorte e completa incapacidade revelada pelos líderes mundiais, com especial destaque para os europeus que não só continuam a revelar-se incapazes de concertar uma solução para debelar a crise como persistem numa estratégia de escamoteio da realidade, que perante o desmoronar dum mundo que deveriam conhecer se revelam incapazes e incompetentes para lançar as bases duma nova ordem internacional, não admirando pois que a cada nova convulsão se suceda outra de maior dimensão e gravidade.


[1] Referência à imagem proporcionada pelas estratégias “bull” e “bear”, forma como são designadas na terminologia dos mercados de capitais as estratégias e as tendências de, respectivamente, subida e descidas das cotações.
[2] Referência a uma das formas tradicionais de representação do deus da guerra na mitologia grega.

Sem comentários: