Enquanto os sinais da mais completa confusão se multiplicam por todos os lados, enquanto se sucedem as notícias (e os boatos) sobre a constante degradação da situação económica dos estados e das empresas ou sobre a agitação social que tanto atinge os regimes autoritários como os mais democráticos, as atenções gerais continuam presas das notícias que os órgãos de informação entendem disponibilizar.
Não que a situação das principais economias ocidentais seja irrelevante, nem que a repressão na Síria ou na Líbia seja indiferente ou que os distúrbios que têm ocorrido na Inglaterra sejam acontecimentos de somenos importância, mas resumir tudo à simples narrativa de acontecimentos isolados sem a acompanhar do mínimo esforço para detectar os pontos de ligação entre eles tem o mesmo valor que o acompanhamento das reacções e comentários dos “especialistas” a propósito de questões tão prosaicas como a actuação das agências de “rating” ou a volatilidade dos mercados financeiros e de “commodities”. O mesmo se poderá dizer do debate em torno das soluções para a crise global; descrever ou tratar a situação em cada umas das economias de forma isolada, quando é cada vez mais evidente que numa época de crescente interdependência entre as economias o fenómeno da globalização já ultrapassou os limites que os seus próprios mentores nunca terão imaginado.
Ao contrário do que acontece entre nós, onde a preocupação fundamental parece continuar a ser as medidas governamentais para equilibrar o défice, ou pior, quanto é que aquelas irão custar ao rendimento disponível dos contribuintes, porque quanto às prometidas e efectivas medidas de redução dos gastos públicos continuamos a aguardar pela sua apresentação, na imprensa europeia já começam a surgir com alguma regularidade e a merecer realce comentários e análises apontando para a necessidade duma nova abordagem dos problemas e destacando a gritante falta de capacidade dos responsáveis pela condução dos destinos gerais, aponto de ter surgido um artigo no THE WASHINGTON POST questionando a manutenção da capacidade dos EUA para assegurarem a liderança mundial.
É evidente que boa parte do desabafo do articulista resulta do desconforto introduzido pela polémica entre Democratas e Republicanos a propósito da questão do limite do défice e pela consequente redução do “rating” norte-americano, mas nada disso, nem a gritante ausência de concretização das pífias medidas anunciadas pelos líderes do G-7 (ver aqui a notícia no NEGÓCIOS), altera um pouco que seja a gritante realidade: nenhum dos actuais líderes mundiais parece reunir um mínimo de condições para assegurar as tarefas que se impõem.
Acredite-se ou não, a realidade tem vindo a ultrapassar diariamente os mal preparados e pior aconselhados líderes das grandes potências e a sua incapacidade não só é cada vez mais evidente como começa mesmo a ser questionada às claras por aqueles que tradicionalmente são os seus principais opoiantes; assim, pudemos ler nos últimos dias o avisos deixado por uma das grandes referências nos meios financeiros e a que o PUBLICO se referiu escrevendo que «Soros culpa Merkel e a Alemanha e fala de crise existencial para a Europa», ou o do insuspeito presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, que assegura que a «Economia mundial entrou numa “fase nova e perigosa”».
Enquanto os dirigentes hesitam e protelam as decisões de fundo, agindo como se a situação fosse benigna, àqueles que vêem escapar-lhes a percepção do Mundo actual restam poucas alternativas além da repetição dos argumentos que justificam a necessidade de medidas de corte radical com os modelos de gestão que ajudaram a eclosão da crise, nomeadamente a clara separação entre a economia real e a financeira, com a redução desta ao papel de financiadora da primeira e a uma rápida nacionalização dos bancos emissores (FED, BCE, etc.) por forma a que os Estados assegurem o financiamento directo junto deles.
Embora não pare de crescer o volume das opiniões nesse sentido, tal pouco se ouve ou lê na imprensa nacional, que á semelhança do tímido artigo do NEGÓCIOS, que sob o título «O que fazer para evitar o colapso da Zona Euro?» junta as opiniões de apólogos e críticos da solução orçamental para a crise (aquela que continua a vingar na UE e que se está a revelar não apenas devastadora, tal é a sucessão e a dimensão dos aumentos da carga fiscal, para os contribuintes mas também ineficaz), mas silencia outras mais contundentes, como seja a que o analista e investidor suíço Marc Faber defendeu numa entrevista ao jornal LE TEMPS e de que o COURRIER INTERNATIONAL se fez eco sob o título «É preciso deixar falir os Estados e os bancos».
Esta ideia, além de estar a ganhar novos adeptos, pois é cada vez mais evidente que não existem recursos suficientes para assegurar o resgate dum número crescente de economias, como o comprovado fracasso da política de resgate público dos bancos descapitalizados na voragem especulativa dos mercados financeiros foi determinante para fragilizar as já débeis finanças públicas, representa mais um passo no processso de descredibilização dos políticos que, por pura tacanhez intelectual, por limitações ideológicas ou mera teimosia insistem em repetir decisões que se provaram erradas esperando que desta vez resultem...
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