quinta-feira, 14 de abril de 2011

SALVADORES DE QUEM?

Enquanto no plano interno, já sob o signo do pedido de resgate da dívida nacional e da chegada dos “técnicos” do FEEF e do FMI, continua a guerrilha eleitoral entre PS e PSD – ora personificada pelos líderes ora por outras figuras menores e de que é claro exemplo a questão da transparência das contas públicas, levantada pelo PSD e já respondida pelo ministro da Presidência do Conselho de Ministros, Pedro Silva Pereira, que assegurou que «As contas públicas são transparentes» e não perdeu tempo a lembrar que este «Não é o momento de falar em esqueletos no armário» –  até no plano externo sucede que muitas são as atenções que estão voltadas para o que acontece em Lisboa.


Com um tão vasto número e origem das fontes onde pode ser consultada informação e comentários sobre a situação nacional, não resisto a deixar aqui um excerto dum comentário originário de Inglaterra e que aqui pode ser lido na íntegra:

«Estão em jogo enormes quantidades de dinheiro, bem como a solvência dos bancos e de todo o sistema financeiro europeu. Segundo dados do Bank for International Settlements – muitas vezes referido como o banco central dos bancos centrais – a exposição total dos bancos estrangeiros à Grécia, Irlanda e Portugal e ao próximo alvo potencial, a Espanha, é de 2,5 biliões de dólares. Destes, os bancos alemães estão expostos a uns 569 mil milhões de dólares, os bancos franceses a 380 mil milhões de dólares e os ingleses a 431 mil milhões de dólares.

O NOMURA SECURITIES, ramo do banco japonês NOMURA, apresentou cálculos reveladores da importância dos resgates para os bancos. Segundo as suas contas, se as dívidas da Irlanda, da Grécia e de Portugal forem reestruturadas – seja por intermédio de reduções no montante em dívida, seja mediante o recurso a prolongamento dos empréstimos – as perdas directas e indirectas para os bancos da Zona Euro poderão atingir os 240 mil milhões de dólares. Valor que subirá para 480 mil milhões de dólares se a Espanha também for incluída. Os bancos alemães, contando-se entre os mais profundamente expostos, poderão sofrer prejuízos de 185 mil milhões de dólares, o equivalente a aproximadamente um terço do seu capital, se as dívidas dos quatro países “periféricos” forem reestruturadas.» 

Mesmo sem ter conseguido confirmar a fiabilidade dos números avançados, parecem consistentes com estes outros compilados no início de 2010 a partir do Bundesbank:


pois os quase 400 mil milhões de euros estimados (excluindo a exposição à dívida italiana) são idênticos aos 560 mil milhões de dólares citados no comentário; e se aqui fiz referência aos números e ao texto é apenas porque o seu título «O resgate de Portugal: a crise bancária europeia aprofunda-se» é particularmente esclarecedor e para que não fiquem dúvidas que até no resto da Europa existe quem reconheça a real finalidade destas “operações” pode ainda ler-se no seu interior que: 

«A reestruturação das dívidas tem registado a oposição do Banco Central Europeu e do governo alemão de Angela Merkel. Uma das principais razões é seu o receio de que qualquer enfraquecimento dos bancos europeus dê vantagens aos bancos americanos, que têm sido fortalecidos pelo fornecimento abundante de fundos pela Reserva Federal dos EUA e a juros praticamente nulos. 

Talvez agora se comecem a tornar mais claras algumas declarações das últimas horas, como a dum «Elemento do BCE diz que se vão iniciar “discussões muito técnicas”» (como se pretendessem proceder a alguma negociação ou suavisação das medidas que vêem impor) ou a crescente preocupação revelada pelos dirigentes europeus quanto à aplicabilidade política de medidas draconianas, quando os políticos nacionais se mostram muito mais interessados na indispensável propaganda que os levará ao poder dentro de menos de dois meses, de que é exemplo a notícia do PUBLICO dizendo que «Juncker pede aos partidos portugueses para se centrarem nas negociações».

Não menos curiosa e esclarecedora (quando lida e interpretada doutra forma) é a notícia de hoje do DN que «FMI quer que casas fiquem mais caras», que podendo interpretar-se como meio para reduzir o endividamento das famílias – o encarecimento do produto poderia tornar mais viáveis as alternativas de arrendamento – pode igualmente resultar do óbvio interesse do sector financeiro ver o seu património imobiliário – vasto e crescente em função do cada vez maior número de famílias executas em resultado do incumprimento no crédito à habitação – valorizado com as consequentes vantagens em termos de balanços e de redução das conhecidas necessidades de recapitalização.

Se estivermos atentos às notícias dos próximos dias, esta realidade – a presença e o interesse no processo de resgate da dívida pública portuguesa destina-se, novamente, a mais um processo de transferência de dívidas dos sector financeiro para a esfera pública – tornar-se-á cada vez mais evidente, justificando ainda mais a necessidade de procurarmos, enquanto cidadãos conscientes e informados, alternativas de oposição a novo processo de empobrecimento colectivo.

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