terça-feira, 4 de dezembro de 2007

NO FINAL DA FESTA CAIU A MÁSCARA

Talvez seja demasiado sarcástico definir assim o resultado da reunião que em Annapolis juntou americanos, israelitas, palestinianos e outros representantes árabes, para concertar uma solução para o conflito que há décadas opõe israelitas a palestinianos.

Mas, além de nada de concreto dela ter resultado - confirmando as expectativas de todos os intervenientes e observadores – poucos, ou nenhuns, passos terão sido dados no sentido de resolver aquele diferendo. A preocupação norte-americana em não beliscar minimamente o seu poderoso aliado israelita, a incapacidade deste apresentar contributos efectivos (incluindo cedências) para o debate, a precariedade da posição interna da autoridade palestiniana, liderada por Mahmud Abbas, e o apagado papel reservado aos restantes representantes árabes não pode deixar de ser referido, tanto mais que a imprensa ocidental pouco tem contribuído para esclarecer e analisar o que realmente ocorreu em Annapolis.

Caso não tivesse ocorrido uma entrevista do primeiro ministro israelita ao jornal Haaretz, na qual este alertou para a necessidade de apoiar a constituição dum estado palestiniano, tudo se poderia resumir assim: George W Bush obteve as fotografias de que necessitava para a sua propaganda interna, Ehud Olmert pode regressar a casa com um sorriso enquanto Mahmud Abbas voltou a reiterar a política do seu antecessor Arafat – na falta de um verdadeiro estado palestiniano para governar vai continuar a contentar-se com o papel de polícia dos interesses judaicos nos territórios ocupados.

Mas o que teve de extraordinário as declarações de Olmert? Não foi seguramente o apoio à constituição de um estado palestiniano, porque isso já há algum tempo começou a ser apresentado à opinião pública israelita como uma boa solução, tanto mais que lhes garantiria a permanência na maior parte dos territórios ocupados, mas sim o facto do líder israelita afirmar publicamente que o fracasso desta estratégia acarretará a prazo o fim do estado israelita, porque a aplicação do principio democrático de um cidadão um voto originará um dia um estado governado por uma maioria palestiniana.

Apesar da pouca relevância dada a estas declarações, elas devem ser especialmente analisadas por aqueles que ainda possam ter alguma dúvida quanto ao cerne do verdadeiro drama judaico e tornam particularmente entendível a mais recente das exigências israelitas – a do reconhecimento do seu país enquanto estado judaico.

Embora fortes do indefectível apoio norte-americano e do aparentemente infindável fluxo financeiro que as comunidades judaicas – com especial destaque para a norte-americana – espalhadas pelos quatro cantos do globo lhes não regateiam, os líderes israelitas vão-se dando conta da crescente fragilidade da sua posição ditada por meras razões de natureza demográfica.

Esta dura realidade, há muito do conhecimento das elites dirigentes mas agora publicamente assumida, deve servir de enquadramento para a análise e explicação da estratégia de destruição sistemática perpetrada pelo exército nos territórios ocupados (oficialmente camuflada com a necessidade de combater o terrorismo e que se estende desde a destruição de habitações à dos campos de cultivo palestinianos), a estratégica disseminação dos colonatos judaicos pelas zonas economicamente viáveis e a estratégia de “cerco” à viabilidade de qualquer forma de vida não judaica na região.

Naturalmente pouco difundidas pela comunicação social ocidental as declarações de Ehud Olmert não permitem mais negar a evidência da estratégia de lento genocídio a que os sucessivos governos judaicos têm condenado as populações palestinianas e tornam agora ainda mais relevante a necessidade da comunidade internacional se fazer ouvir no sentido de pôr cobro a uma das grandes iniquidades da história contemporânea.

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