segunda-feira, 16 de janeiro de 2006

PRESIDENCIAIS II

Depois de ontem ter deixado algumas das dúvidas que me assaltam a respeito do candidato presidencial a que as sondagens já atribuem a vitória, gostava de continuar este tipo de reflexão a propósito de outro.

Tal como Cavaco Silva também Mário Soares recebeu o apoio de um partido – o PS – embora este assuma desde a primeira hora a importância desse mesmo apoio, contrariamente àquele.
Após um longo período de hesitações entre as hostes do PS, divididas quanto à questão presidencial (quiçá entre apoiar um candidato próprio ou Cavaco Silva), as pressões do PC para a formalização de uma candidatura de “esquerda” e o anseio, manifestado de forma ainda pouco convicta por Manuel Alegre, a direcção socialista acabou por se decidir pelo apoio à candidatura de Soares.

Desde o início se fizeram ouvir vozes críticas apontando como principal defeito a adiantada idade do candidato. Facto inegável a que este foi respondendo com a sua reconhecida capacidade para “dar a volta” às dificuldades e iniciando desde logo uma maratona de deslocações, visitas, contactos, entrevistas, etc., etc., com o objectivo de passar a figurar no panorama noticioso nacional.

Não esquecendo que saíra da vida política activa há cerca de dez anos (quando completou o segundo mandato seguido como PR) Soares foi-se desdobrando na tentativa de explicar porque concorria a novo mandato. Evitando sempre aquela que talvez seja a razão fundamental (o PS parecia não ter mais ninguém disponível após as recusas de Guterres e Vitorino), procurou centrar a questão da candidatura no sentido de evitar a eleição de Cavaco Silva.

Em termos práticos Soares apresenta-se com a inegável vantagem de já ter exercido o cargo (facto não displicente), mostrando-se particularmente activo no contacto directo com as populações e francamente capaz de enfrentar de igual para igual os restantes candidatos. Durante o período da realização dos debates televisivos foi inegável que os mais interessantes foram aqueles em que ele ou Francisco Louçã participaram.

Despida de grandes temas, a campanha de Soares respeita o princípio que ele próprio procurou enunciar no debate televisivo com Cavaco Silva – o PR não governa, é apenas uma figura de moderação da cena política nacional, devendo igualmente assegurar um papel de mobilizador – tem-se revelado pouco atractiva e inovadora.

Paradoxalmente Soares ainda não conseguiu explicar de forma convincente as razões da sua candidatura; assim, mesmo reconhecendo-lhe vastas capacidades para o exercício do cargo (de que aliás já deu provas), entendo que são precisas mais razões para o integrar no meu leque de possíveis escolhas para o próximo inquilino de Belém.

Sem comentários: