quarta-feira, 18 de janeiro de 2006

PRESIDENCIAIS IV

Concluindo a ronda que me propus realizar pelo conjunto dos candidatos presidenciais, vejamos as candidaturas de Jerónimo de Sousa, Francisco Louçã e Garcia Pereira.

Considerados como “outsiders” por não apresentarem reais hipóteses de eleição, ou passagem a uma segunda volta, os também designados candidatos partidários, por emanarem directamente de um directório político, nem por isso deixam de justificar atenção e merecer o respeito de todos.

Constatado o fracasso da hipótese de uma candidatura conjunta com o PS, opção que a direcção do PCP privilegiava, resolveu aquele partido avançar com a candidatura do seu secretário-geral, Jerónimo de Sousa.

Figura importante na actual estratégia comunista, possuidor de características de afabilidade e boa comunicação, Jerónimo de Sousa repete uma candidatura ensaiada em 1996 que o partido não levou à boca das urnas desistindo em favor de Jorge Sampaio. Desta feita promete “ir até ao fim” e para já tem conseguido manter em bom nível a sua presença. Centrando a campanha em torno de temas como o da defesa das condições laborais e dos princípios constitucionais em vigor (foi responsabilidade da sua candidatura a tese de que a constituição não é neutral), tem logrado uma boa resposta popular ao seu discurso (disso é prova o comício recentemente realizado no Pavilhão Atlântico) e parece estar a conseguir aquele que deverá ser o seu principal objectivo: garantir uma boa percentagem de votação que de outra forma poderia engrossar o grupo dos abstencionistas.

Também a candidatura de Francisco Louçã resultou da decisão do grupo político que lidera (Bloco de Esquerda) e tal como a anterior deverá, fundamentalmente, procurar assegurar a mobilização para o acto eleitoral que se avizinha. Parlamentar reputado, Louçã conseguiu brilhar em alguns momentos, com particular destaque para o debate em que participou com Cavaco Silva. Apresentando ambos formação na área económica, foi naquela oportunidade evidente a falta de capacidade de Cavaco Silva para defrontar, com armas iguais, o seu opositor. Louçã revelou em quase todas os temas então abordados, informação, conhecimento e capacidade de argumentação igual ou superior à do candidato à sua direita, contribuindo para uma eficaz desmistificação da áurea de sabedoria do ex-primeiro-ministro.

Ao longo da campanha Louçã tem procurado, tal como Jerónimo de Sousa, contribuir para a redução de uma atitude abstencionista que poderia grassar entre o eleitorado descontente com a política governativa do PS e pouco identificado com as teses tradicionalmente ortodoxas do PCP, enquanto vai apresentando propostas concretas sobre temas bem definidos, como aconteceu com a proposta de financiamento do deficit da segurança social, a oposição à ideia da criação de círculos eleitorais uninominais e a oposição à política de concentração nos meios de comunicação social.

Garcia Pereira, líder do PCTP-MRPP, repete a candidatura de 2001. Entre o grupo dos “outsiders” este será, indubitavelmente, o mais “outsider” de todos. Advogado de créditos firmados e patrono de muitas causas que poucos se arriscariam a defender, tem construído uma reputação de político eficiente, idêntica à que tem como jurista, porém, para a eleição em causa é o que menos peso apresenta, sem que por isso desmereça do direito de fazer ouvir a sua voz e a sua opinião.

No conjunto pode-se dizer que estes três candidatos poderão representar a diferença entre uma eleição numa primeira volta, ou a necessidade de uma segunda que defina qual o futuro PR.

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