terça-feira, 31 de janeiro de 2006

NOTAS SOLTAS E BREVES

O final do mês de Janeiro está a registar um número assinalável de “cimeiras” e outros “encontros”, onde os poderosos do mundo vão arquitectando planos ou dando a conhecer à comunidade mundial decisões sobre o que de mais importante vai ocorrendo.

Após a cimeira de Davos, onde os principais políticos, os capitães da indústria e as figuras do «show business», debateram algumas das grandes questões e deram a conhecer donativos, registou-se:

- uma cimeira entre os EUA, a EU, a Rússia e a ONU para debater os recentes resultados eleitorais na Palestina e o financiamento à Autoridade Palestiniana, que decidiu pela suspensão daquele auxílio caso o Hamas (organização democraticamente eleita para governar o território) não aceite reconhecer o Estado de Israel e declare o fim das acções armadas contra os judeus;

- uma cimeira entre os EUA, a Grã-Bretanha, a França e a Alemanha para debater a questão nuclear iraniana, na qual decidiram levar à próxima reunião do conselho de direcção a AIEA (Agência Internacional para a Energia Atómica) para aprovação uma proposta de resolução a apresentar ao Conselho de Segurança da ONU;

- em Londres, iniciou-se a cimeira dos doadores ao Afeganistão que logo na primeira sessão anunciou a aprovação de um programa de 5 mil milhões de dólares de auxílio àquele país, a aplicar nos próximos cinco anos;

- em Lisboa, Bill Gates foi hoje galardoado pelo Presidente da República e amanhã vai assinar com o primeiro-ministro, José Sócrates, um vasto programa de formação a desenvolver no nosso país e integrado no plano tecnológico apresentado pelo governo.

Vistas de relance todas estas notícias pode-se pensar que ainda existe no mundo quem procure soluções para os problemas alheios, não são só os beneméritos doadores privados (Bill Gates anunciou em Davos a doação de 600 milhões de dólares para combater a tuberculose) mas também muitos governos revelam-se dispostos a financiar um país que necessita desesperadamente de meios para garantir a sobrevivência da sua população.

Ao mesmo tempo esses mesmos governos revelam-se inflexíveis com aqueles que pretendem incrementar o uso da energia nuclear (porque pode facilitar a produção de armamento nuclear) e com o futuro governo da Autoridade Palestiniana porque este será constituído por elementos de um grupo (democraticamente eleito) que se recusa a aceitar que o seu país seja ocupado por outro (que, por acaso ou não, também dispõe de armamento nuclear).

Porque estas coisas estão todas interligadas, à inflexibilidade dos governos ocidentais para com palestinianos e iranianos, contrapõe-se a bonomia com que os mesmos aceitam aumentar a ajuda financeira ao governo de um território que é o maior produtor mundial de ópio e que este longe de contrariar esta situação tem permitido o seu aumento. Por outro lado se Bill Gates vai doar os tais 600 milhões de dólares muitos deles serão originários do governo português que por via do programa que irá assinar vai enfeudar todo o mercado nacional de software à Microsoft (com os consequentes lucros associados). Será que no governo português nunca ninguém ouviu falar de uma coisa chamada software livre?

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