Aprestamo-nos
a encerrar mais um ano e voltamos recordar algumas das grandes questões
internacionais que continuam por resolver, com a famigerada Palestina e a não
menos aviltada questão do Sahara Ocidental sempre presentes.
Diga-se em
abono da verdade que a primeira destas conheceu algum destaque informativo nos
últimos dias, devido à aprovação duma resolução (mais uma...) onde a «ONU
exige a Israel fim “imediato” da política de colonatos». De imediato
ficámos a saber a reacção de Tel-Aviv, na qual «Israel
critica abstenção dos Estados Unidos na ONU», pois a única verdadeira
novidade foi o facto destes não terem vetado – como habitualmente – mais uma
iniciativa de condenação a Israel.
Sabido que
estamos em vésperas de mudança do inquilino da Casa Branca, nem se estranha que
o seu novo ocupante, Donald Trump, tenha prontamente anunciado que «"As
coisas serão diferentes" a partir de Janeiro», facto que em nada
acalmou o governo do seu amigo Benjamin Netanyahu que já afirmou que «Israel
diz ter “provas” de que Obama orquestrou resolução anticolonatos», como se
a política israelita de expansão dos colonatos respeitasse realmente as regras
internacionais e tudo isto não passasse duma campanha difamatória.
Simultâneamente
não deixa de ser curioso que seja no final da passagem de Ban Ki-moon pela
liderança da ONU que tenha surgido esta iniciativa a que o próprio se referiu
dizendo que a «resolução
da ONU sobre Israel é “um passo significativo”» para apoiar a a visão
norte-americana dos “dois Estados”; mas sobre a visão da ONU, se é que ela
existe, ou sobre a normal violação das suas resoluções nem uma palavra.
Claro que «Israel
não vai cumprir resolução do Conselho de Segurança e ataca Obama» numa
estratégia de fuga para a frente porque se espera confortado com a nova
administração Trump, mas se este cumprir a promessa de viragem autárcica poderá
comprometer a qualidade do respaldo que todas as administrações norte-americanas nunca negaram a Israel na precisa medida em que a viragem para
dentro dos norte-americanos será compensada com a emergência doutra potência no
seu lugar, que deverá ser menos “amiga” da causa sionista.
Nem mesmo com uma
intervenção onde o ainda secretário de Estado «John
Kerry diz que paz só é possível com solução de dois Estados» os EUA
conseguirão convencer os sectores sionistas mais radicais, que continuando a
negar a inevitabilidade da pressão demográfica palestiniana se recusam a
inverter a estratégia de afrontamento que escolheram para lidar com a Autoridade
Palestiniana.
Mesmo não
crendo que António Guterres, o novo secretário-geral da ONU cuja eleição (mais
que a de Donald Trump) bem merece a designação de acontecimento do ano,
acredite, como o afirmaram o Hamas e a Jihad Islâmica, que a «Resolução
da ONU que “apoia palestinianos” representa “mudança positiva”» e admitindo
que as suas reconhecidas capacidades de negociação e de influência até possam
fazer alguma diferença nos resultados obtidos pela ONU na questão palestiniana,
esperar desta resolução uma efectiva melhoria para a região do Médio Oriente
tem mais de pensamento dogmático que do pragmatismo que o historial das partes
envolvidas exige. Basta recordar que o regime de Tel-Aviv sempre tem encontrado
apoio para desrespeitar as resoluções da ONU que não o satisfaçam cabalmente e
as que o satisfazem em nada têm contribuído para resolver um conflito que se
arrasta desde a declaração unilateral de independência em 1948 (como é o caso da
solução “dois povos – dois estados”, que na versão patrocinada pelos EUA se
converteu numa solução “dois povos – um estado e outro fantoche”) e contribuído
largamente para que a região do Médio Oriente seja, ano após ano, uma crónica
zona de instabilidade com evidentes reflexos à escala global.
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