Por incrível
que possa parecer, até nestes tempos destrambelhados, ainda surgem
ocasionalmente notícias com capacidade para nos espantarem.
Não me estou a referir à
“modernidade” das “novidades” difundidas via Facebook, antes a afirmações veiculadas
na imprensa, como seja aquela onde «Rui
Moreira diz que TAP tenciona abandonar longo curso no aeroporto do Porto».
Embora outros jornais tenham
prontamente desmentido as preocupações do edil portuense, dizendo que a «TAP
ainda não tomou decisão sobre suspensão de voos de longo curso no Porto», haverá
quem ingenuamente tenha acreditado que a alienação a interesses privados
constituía a melhor via para assegurar o interesse colectivo?
Este
sinal de “fechar de portas” será apenas o primeiro de outros “ponTAPés” que a
magnânima gestão privada da empresa não deixará de desferir no interesse geral!
Ou alguém de bom senso tinha expectativas diferentes?
Melhor, é que além de parecer confirmada aquela ideia, veio alimentar
anteriores preocupações e reforçar a afirmação onde a «Estrutura
sindical da TAP alerta para «esvaziamento da operação» da empresa no país»,
e nem sequer foi o primeiro sinal da mudança, pois poucos dias tinham decorrido
desde a controversa assinatura do contrato de venda por parte dum governo
limitado às funções de gestão corrente e logo começaram a surgir notícias sobre
a intenção dos novos donos procederem à venda de terrenos junto ao aeroporto, onde se
encontram instaladas a sede, os escritórios e oficinas, no valor de 146 milhões
de euros que, pura coincidência. é quase igual aos 150 milhões injectados pelos
compradores.
Pior que o
lirismo evidenciado pelos ansiosos “vendedores” é assistirmos agora à
hipocrisia de ouvirmos que o «PSD/Porto
quer esclarecimento da tutela sobre fim do longo curso da TAP», enquanto
silenciou o reconhecido facto de ter pactuado com uma venda onde o «Risco da dívida da TAP fica no Estado»,
ou seja: a empresa foi vendida a desconto (baratinha) sob o pretexto do seu
elevado passivo (maioritariamente constituído por dívidas financeiras) lhe
reduzir o valor, mas os esforçados compradores ficaram desde logo dispensados
de pagar esse mesmo passivo, pois o magnânimo Estado assegurará esse pagamento,
sem o risco de perderem todo o pouco que investiram!
Este processo
de transferência de rendimentos do sector público para o privado é que é o
verdadeiro empreendedorismo tão amiudamente louvado como o salvador das
economias… e ao qual continuam a ser sacrificados os cidadãos contribuintes
deste País, porque não duvidem seremos todos nós a pagar o passivo da TAP,
depois de termos entregue os lucros que não pararão de crescer graças à
superior capacidade da gestão privada, e depois de perder o poder de decisão
sobre a orientação estratégica – o verdadeiro interesse geral – duma
transportadora aérea, que poderá mudar a sua base de operações para onde quiser
e for mais barato.
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