terça-feira, 1 de dezembro de 2015

LEMBRANÇAS DUMA FUTUROLOGIA FÁCIL

A lembrança da efeméride que hoje devíamos estar a comemorar em Portugal – a Restauração da Independência – e a leitura dum artigo de José Vítor Malheiros, onde lembra (e bem) que o actual é «Um Governo sem tempo para errar» ao qual devemos «…garantir (…) toda a lealdade e toda a cooperação mas nenhuma condescendência, nenhuma complacência», levam-me a deixar nota de duas questões que não auguram nada de bom.

A primeira (e a menos importante) tem a ver com o incumprimento do compromisso de reposição dos feriados demagogicamente abolidos pela coligação PSD/CDS. É certo que o António Costa ainda mal tomou posse e que esta ocorreu muito em cima do 1º de Dezembro, mas ainda assim fica a nota do esquecimento e do sinal negativo que comporta.


A reposição dos feriados do 5 de Outubro – Implantação da República – e do 1º de Dezembro – Restauração da Independência – significa muito mais que a recuperação de dois feriados, pois trata-se afinal de manter tão viva quanto possível a memória colectiva dum povo, e podia muito bem ter sido a segunda medida tomada pelo novo governo; tomá-la logo após a aprovação do respectivo programa representaria a reafirmação do cumprimento de compromissos e um claro sinal da vontade de mudança.

Mudança foi, precisamente, o que representou a votação onde o «Parlamento acaba com exames do 4.º ano»; duvido é que esta represente uma mudança para melhor. Mesmo compreendendo algum fundamento na argumentação de que os exames podem agravar a diferença de classes sociais e que pouco peso representam na avaliação final, nem por isso deixo de partilhar a ideia que constituem um importante factor de treino e de responsabilização de alunos, professores e encarregados de educação.

Mais do que alinhar no discurso fácil (e falso) de que a abolição dos exames representa um sinal de facilitismo no percurso de formação dos jovens, creio que se está é a eliminar um factor de credibilização que os jovens pagarão numa futura admissão no mercado de trabalho (ou pelo menos a facilitar esse argumento) e a desperdiçar esforços que deveriam ser concentrados na abordagem e discussão das grandes questões que Governo e Parlamento terão de enfrentar de pronto: a fragilidade das finanças nacionais e do sistema financeiro; as verdadeiras reformas estruturais que, apesar de tudo o que se disse, continuam por fazer; o fraco crescimento económico e a ausência de investimento e de perspectivas de trabalho para os mais jovens.

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