Climatologicamente falando e um pouco em analogia com o
nosso Verão de S. Martinho (que os americanos apelidam de “Été Indien”), o
resultado da segunda volta das eleições regionais francesas bem poderia ser
visto como um outono tardio...
...mas atenção que muitas vezes as aparências iludem!
É certo que a barreira da segunda volta impediu a vitória
da FN (Front National), de extrema-direita, em qualquer região, mas ainda assim
o partido obteve um número nunca alcançado de 6,5 milhões de votos.
Mas esta derrota pode, se os republicanos de Nicolas
Sarkozy – apresentado como o grande vencedor de Domingo com a conquista de 7
regiões – não conseguirem ultrapassar as suas próprias divisões, nem os
socialistas de François Hollande e Manuel Valls – que minimizaram a derrota com
a vitória em 5 regiões – conseguirem atrair o resto da esquerda, constituir um
primeiro importante passo para as eleições presidenciais de 2017.
O grande problema que enfrentam os socialistas e os republicanos
franceses é a proverbial incapacidade dos partidos do poder se relacionarem com
aqueles que têm mantido afastados à sua direita ou à sua esquerda. Não será
inocente o recente fenómeno dos “partidos radicais” nem fruto do acaso o crescente
interesse que comentadores e analistas lhes têm dedicado, mas é seguramente elucidativo
que a principal preocupação e crítica seja focada nos “radicais de esquerda”,
enquanto os seus “congéneres” de direita vão prosperando, ou não contassem os
primeiros com a frontal oposição do sistema financeiro e os segundos, se não
com o seu apoio, pelo menos com a sua neutralidade.
Veja-se o que está a acontecer na Grécia e na Espanha, onde
a crescente contestação aos partidos do sistema já levou a mudanças no poder
(eleição na Grécia dum movimento de esquerda, o Syriza, com fortes raízes
trotskistas que soube construir pontes de diálogo com outros agrupamentos da
mesma área e que levou uma UE completamente enfeudada aos interesses do sistema
financeiro e politicamente inepta a apressadamente reduzir a nada as poucas
iniciativas divergentes ensaiadas pelo novo governo helénico) ou ameaça fazê-lo
no próximo fim-de-semana em Espanha (onde é expectável um cenário idêntico ao
ocorrido em Portugal, no qual o partido mais votado não conseguirá construir as
indispensáveis alianças para formar governo), ou um pouco por toda a Europa com
a crescente popularidade de partidos nacionalistas e xenófobos.
O anquilosamento dos partidos tradicionais poderá
determinar a ascensão de partidos mais à esquerda, com o resultado que vimos na
Grécia, ou mais à direita, com o resultado que não quero ver.
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