quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

É PRECISO MEDIR BEM...

Embora quase a encerrar o triste capítulo da sua passagem por Belém, Cavaco Silva teve ainda tempo para comentar, a propósito das notícias sobre o BANIF, a situação do sistema financeiro nacional afirmando que «"É preciso medir bem as palavras quando se fala do sistema bancário"», e eu tendo a concordar com ele.

Não pelas mesmas razões – para o insigne professor de economia a ponderação deriva do facto daquele sistema ser decisivo para o funcionamento da economia – mas porque o cerne dos problemas actuais de qualquer sistema financeiro (nacional, europeu ou mundial) se situa na necessidade de “medir” a sua real importância e a sua real exposição aos produtos estruturados complexos. Recordam-se da falência do Lehman Brothers no Verão de 2008 e do que estão se escreveu sobre a excessiva exposição daquele banco de investimento a produtos estruturados?


Logo no dia 20 de Setembro de 2008 escrevia no «post» «BURACO NEGRO» que «A grande sofisticação deste tipo de produtos financeiros e a sua difusão como se de um produto de cobertura de risco se tratasse, originou uma rápida e vasta dispersão pelas contas de quase todos os bancos por esse mundo fora. Ainda hoje quando se ouvem ou lêem declarações de políticos e de administradores de bancos que asseguram a reduzida exposição das suas economias (e das entidades financeiras que nelas operam) àquele tipo de produtos deverá continuar a ser encarada com as devidas reservas, na medida em que continuam por apurar os montantes envolvidos naquelas transacções e, inclusive, quais os instrumentos financeiros que integram ou não activos daquele tipo», numa alusão à necessidade de apurar a dimensão do jogo especulativo em torno dos produtos estruturados disseminados por todo o sistema financeiro mundial.

Sete anos volvidos, a palavra chave continua a ser “medir”; não no sentido limitativo e castrador proposto por Cavaco Silva, mas sim no sentido de exigirmos a avaliação do buraco financeiro que se mantém dissimulado nos balanços dos bancos.

Desde a falência do Lehman Brothers não têm parado de se repetir casos análogos noutros bancos, sempre acompanhados da beatífica recomendação de “não se falar demasiado” para não “assustar os mercados”. A assim continuarmos sem escalpelizar até às últimas consequências casos como o do BPN, do BPP e do BES, estaremos a facilitar o próximo evento (BANIF ou outro) e a aceitar silenciosamente que o custo final desta economia de casino criada por “banksters” (designação que remonta aos anos da Grande Depressão e que resulta da aglutinação dos termos banqueiro e gangster) sem escrúpulos acabe sempre saldada a expensas dos contribuintes.


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