Embora quase a
encerrar o triste capítulo da sua passagem por Belém, Cavaco Silva teve ainda
tempo para comentar, a propósito das notícias sobre o BANIF, a situação do
sistema financeiro nacional afirmando que «"É
preciso medir bem as palavras quando se fala do sistema bancário"», e
eu tendo a concordar com ele.
Não pelas
mesmas razões – para o insigne professor de economia a ponderação deriva do
facto daquele sistema ser decisivo para o
funcionamento da economia – mas porque o cerne dos problemas actuais de
qualquer sistema financeiro (nacional, europeu ou mundial) se situa na
necessidade de “medir” a sua real importância e a sua real exposição aos
produtos estruturados complexos. Recordam-se da falência do Lehman Brothers no
Verão de 2008 e do que estão se escreveu sobre a excessiva exposição daquele
banco de investimento a produtos estruturados?
Logo no dia 20
de Setembro de 2008 escrevia no «post»
«BURACO
NEGRO» que «A grande sofisticação deste tipo de produtos financeiros e
a sua difusão como se de um produto de cobertura de risco se tratasse, originou
uma rápida e vasta dispersão pelas contas de quase todos os bancos por esse
mundo fora. Ainda hoje quando se ouvem ou lêem declarações de políticos e de
administradores de bancos que asseguram a reduzida exposição das suas economias
(e das entidades financeiras que nelas operam) àquele tipo de produtos deverá
continuar a ser encarada com as devidas reservas, na medida em que continuam
por apurar os montantes envolvidos naquelas transacções e, inclusive, quais os
instrumentos financeiros que integram ou não activos daquele tipo», numa alusão à necessidade de apurar a dimensão do jogo
especulativo em torno dos produtos estruturados disseminados por todo o sistema
financeiro mundial.
Sete anos
volvidos, a palavra chave continua a ser “medir”; não no sentido limitativo e
castrador proposto por Cavaco Silva, mas sim no sentido de exigirmos a
avaliação do buraco financeiro que se mantém dissimulado nos balanços dos
bancos.
Desde a
falência do Lehman Brothers não têm parado de se repetir casos análogos noutros
bancos, sempre acompanhados da beatífica recomendação de “não se falar demasiado”
para não “assustar os mercados”. A assim continuarmos sem escalpelizar até às
últimas consequências casos como o do BPN, do BPP e do BES, estaremos a
facilitar o próximo evento (BANIF ou outro) e a aceitar silenciosamente que o
custo final desta economia de casino criada por “banksters” (designação que remonta aos anos da Grande Depressão e
que resulta da aglutinação dos termos banqueiro e gangster) sem escrúpulos acabe
sempre saldada a expensas dos contribuintes.
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