Enquanto se
avolumam as notícias sobre a escalada de violência por todo o Médio Oriente, assistimos
a uma comovente confissão televisiva (à cadeia norte-americana CNN) onde, o
ex-primeiro-ministro britânico, Tony «Blair
admite relação entre invasão do Iraque e aparecimento do Estado Islâmico».
Não fica mal e apazigua
algumas consciências mais pesadas, mas pouco ou nenhum valor acrescenta aos
complexos problemas duma região onde olhando para o seu mapa o que ressalta é
um Iraque fragmentado e em vias de implosão, uma Síria em acelerado processo de
destruição, um Afeganistão e um Paquistão longe da tranquilidade que os seus
naturais desejariam e uma Palestina, ainda e sempre, ocupada e transformada na
prática num mero campo de concentração, enquanto o Ocidente se revela cada vez mais indiferente aos
problemas que originou.
É que não foi
apenas a medonha mentira das armas químicas de Saddam Hussein, invocada para
justificar uma invasão e uma ocupação militar que rapidamente descambou em mais
um afrontamento entre sunitas e xiitas – facções islâmicas que se digladiam
desde a morte de Maomé (632) –, que agudizou as tensões na região. O problema é
bem mais antigo e há muito que a influência ocidental tem alimentado ódios e
querelas; fosse no simples desenho de fronteiras segundo os interesses das
potências europeias (veja-se o caso do Iraque, Síria, Líbano e Jordânia,
“desenhados” na sequência da desagregação do Império Otomano em função dos
interesses franceses e ingleses), no reconhecimento (ou oblívio) de povos e
nacionalidades (drusos, curdos, arménios, judeus, palestinianos) em detrimento
uns dos outros, ou no favorecimento alternado de sunitas e xiitas, seguindo a
antiga máxima colonialista de “dividir para reinar”, já para não falar na
indispensabilidade de criar um novo inimigo que substituísse a implodida URSS.
Somando a isto
a inevitável disputa pela hegemonia entre potências regionais (Irão, Turquia e
Arábia Saudita) e os conhecidos interesses russo e ocidental, estão encontrados
todos os componentes para um longo e duradouro conflito.
Depois de se
ter incentivado a migração de judeus para a Palestina e enquanto se alimenta a
ancestral rivalidade entre sunitas e xiitas, procura-se esquecer as aspirações
de curdos e palestinianos (duas das nações mais prejudicadas no conturbado
cenário do Médio Oriente) bem como a implicação das petro-oligarquias (Arábia Saudita
e Qatar) no moderno fenómeno da radicalização islâmica (seja a de cariz
wahabita ou a de origem takfir ou salafita), para o qual a estratégia ocidental
de protecção a Israel e às petromonarquias do Golfo tem servido de combustível ideal.