O descambar da
situação na Zona Euro, onde a Grécia tem vindo a ser empurrada para uma saída
que não deseja, leva-me a recordar uma clara analogia com um facto que a
História narra - a condenação e execução, em 399 a.c., doutro grego: Sócrates,
o grande filósofo criador da maiêutica.
A morte de
Sócrates (condenado pelos seus concidadãos) não assinalou o fim de nenhuma era,
pois a maiêutica e a filosofia sobreviveram-lhe, mas a sentença que a UE
insiste em executar sobre a Grécia poderá marcar o seu próprio fim.
Como escreveu Pacheco
Pereira, em «A
Europa que nos envergonha», «Esta não é a Europa dos fundadores, é a
Europa dos partidos mais conservadores, com os socialistas à arreata. Não terá
um bom fim e, nessa altura, muita gente lembrará a Grécia», especialmente quando se confirmarem os
piores cenários para a derrocada iminente.
Nesta fase os
ordoliberais poderão ver concretizar-se o seu plano de forçar os estados
periféricos europeus à expiação por via duma humilhação colectiva que também os
atingirá; mas, a confirmar-se a existência de quem volte a beber até à última
gota a cicuta oferecida pelos mesmo tipo de decisores incompetentes e incapazes
com a dignidade de quem sabe ter razão, talvez acelere aquele processo.
Tudo
indica que a decisão de forçar os gregos a sair da moeda única, e quiçá da
própria UE, não data de agora, mas restam cada vez menos dúvidas que os
esforços terão sido reforçados com a chegada a Bruxelas e às reuniões dos seus
burocratas de representantes doutra corrente de pensamento que não a
privilegiada pelo ordoliberalismo. Só isso explica que, descontada a
desinformação que normalmente rodeia aquelas sessões, tenhamos assistido a uma
“dança de promessas” e de “falsas esperanças” entre os principais negociadores (foi
assim que ora as propostas gregas eram razoáveis, ora eram inaceitáveis, ora o
«Governo
grego rejeita contraproposta dos credores», ora o «FMI mantém expectativa de que a Grécia cumpra
pagamento de 1,6 mil milhões de euros» ou garanta que
«Se
a Grécia não pagar na terça-feira, o FMI não a declara em bancarrota»), isto
enquanto os actores menores se esganiçavam num coro desafinado de invectivas,
do género daquelas em que o «Governo
português acusa Grécia de estar a fazer “chantagem inadmissível”», sem mais
resultado que adicionar gritaria ao barulho.
Concorde-se ou não, depois do
fracasso negocial a «Grécia
rejeita "oferta generosa" que deixa de fora corte na dívida» e «Tsipras
marca referendo ao acordo com os credores»; mas ao contrário do que Geórgios Papandréu (o ex-líder do
PASOK prontamente substituído na chefia do Governo pelo tecnocrata e
ex-vice-presidente do BCE, Lucas Papademos), fizera em 2011
aquando da formalização do segundo resgate, o anúncio foi prontamente
acompanhado da marcação duma data, num claro sinal de vontade política de dar
aos cidadãos gregos o que os restantes líderes europeus recusam: a decisão numa
escolha entre a actual plutocracia (governo dos mais ricos) comunitária ou uma
democracia.
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