Com a informação
que as «Negociações
em Bruxelas terminam sem acordo», tudo indica que entrámos num ponto de não
retorno para qualquer das partes, tanto mais que já uns dias antes fora
anunciado que a «Equipa
do FMI abandona negociações com Atenas por existirem “grandes diferenças”»;
esta decisão, pressagiando bem mais que uma antecipada ausência de acordo, viu-se
reforçada pelas declarações do presidente do Conselho Europeu em exercício, onde
«Donald
Tusk diz que não há mais tempo para jogos. "Precisamos de decisões, não de
negociações"», e do ministro alemão da Economia, nas quais «Sigmar
Gabriel avisa que a Europa está a perder a paciência com a Grécia».
Estas afirmações e comentários inserem-se na linha de quem não
revela dúvidas sobre a irresponsabilidade do governo do radical Alexis Tsipras
querer ver revistas as condições do programa de resgate imposto pela “troika” que levou a uma contracção da
economia grega e ao disparar do desemprego para níveis insustentáveis; os
naturais apoiantes da solução austeritária – como o deputado do PSD, Duarte
Marques – não hesitam sequer em afirmar que «A
Democracia tem regras e são iguais para todos, mesmo para os gregos», como
se a legitimidade do Governo grego fosse menor que a dum FMI ou dum BCE que
ninguém sufragou.
Esquecendo
que apenas uma divergência de «Dois
mil milhões de euros por ano levam a suspensão das negociações com a Grécia»,
valor que representa menos de 1% do PIB helénico ou 0,02% do PIB comunitário,
atribui-se o fracasso à irredutibilidade grega quando que até Olivier Blanchard, economista-chefe do FMI (organismo que
abandonou as negociações por rejeitar a mínima hipótese de reestruturação da
sua parte da dívida), veio apontar uma opção de convergência (hipócrita, mas
opção) onde «gregos
têm de mexer nas pensões, europeus têm de mexer na dívida».
O
dogmatismo dos credores dos gregos em geral, e do FMI em especial, é tal que o
anúncio de que foi uma «Proposta
da Comissão para trocar cortes nas pensões pela Defesa rejeitada pelo FMI»
confirma, afinal, que o verdadeiro fundamento para a imposição duma política de
austeridade não é o reequilíbrio financeiro mas sim a opção por um modelo de
distribuição da riqueza mais desequilibrado e que até já nas páginas do
FINANCIAL TIMES se admite que «A
Grécia não tem nada a perder ao dizer não aos credores», o que reforça o sentido
a afirmação de que «Tsipras
vai esperar “pacientemente” que os credores se tornem “realistas”» ou a reafirmação
produzida pelo seu ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, de que «"Não
queremos mais dinheiro"» e que o «resgate
da Grécia tem de "começar do zero"», numa clara alusão à
necessidade duma completa reformulação dos termos do resgate.
Quando se revela cada vez mais evidente que a
questão fundamental não é o problema do endividamento (este resulta em grande
medida da ineficiência dos mecanismos do Euro, criados para privilegiar os
interesses do capital rentista em detrimento dos da economia e dos cidadãos)
mas sim o dos desequilíbrios económicos alimentados por um sistema financeiro
desfasado da realidade das economias e pelo dogma neoliberal da eficácia dos
mercados, continuam a ouvir-se vozes, como seja o caso do governo português ou
do presidente Cavaco Silva (que, durante uma visita oficial à Bulgária, alinhou
pelas posições mais conservadoras, afirmando-se preocupado
com a Grécia mas lembrando que não pode haver excepções), defendendo a sacrossanta imutabilidade dos tratados
contra a evidência da vontade dos eleitores e esquecendo que o insucesso grego será um primeiro
passo para o seu próprio “suicídio assistido” às ordens duma Europa que renegou
os valores da solidariedade e da democracia.
O pior e mais lamentável de tudo
isto é que no momento em que acabámos de assinalar o 30º aniversário da adesão
de Portugal a uma UE, sobre a qual até Mario Draghi (o presidente
do BCE) já admitiu que é impossível
prever consequências de um eventual incumprimento da Grécia, os nossos
governantes recusam ignobilmente que a solução para a crise europeia possa passar,
como escreveu Viriato Soromenho-Marques
no DN, pelo reconhecimento de que as «…reformas estruturais de que mais necessitamos na Europa não são as dos
países, mas sim as da própria União Europeia, e em especial as da zona euro».
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