Na semana que terminou com a realização
na prazerosa e romântica Sintra duma cimeira dos bancos centrais, foi notícia que
«Portugal
emitiu dívida com taxa negativa». Tanto bastou para ouvirmos as habituais
loas e demais declarações dos costumeiros
políticos e comentadores, quase todos esquecendo de referir que se tratava duma
emissão de Bilhetes de Tesouro (dívida a muito curto prazo) na qual «Portugal
paga taxa negativa para se financiar a seis meses».
Os mais atentos,
ter-se-ão questionado sobre a razão pela qual as principais agências de rating (Fitch, Moody´s e a
Standard&Poor’s) manterão ainda a classificação “lixo” para a dívida
pública portuguesa; se afinal os investidores até aceitam pagar para comprar
BT´s e, como asseguram alguns comentadores, a situação do país é francamente
melhor, será como afirmou Passos Coelho que as «Agências esperam pelas eleições para subir
"rating"»? ou pelo contrário a sua apreciação é a mais
adequada?
Na realidade o
movimento de descida das taxas de juro das dívidas denominadas em euros tem
mais a ver com uma situação de excesso de liquidez (a prova é que a descida se
verifica apenas nos prazos muito curtos) que com a melhoria dos indicadores
económicos ou a convicção dos investidores sobre a segurança das suas
aplicações. Para este aumento de liquidez têm contribuído dois factores: o
aumento da injecção monetária pelo BCE e a eficácia das políticas de
austeridade na concentração da riqueza em sectores cada vez mais reduzidos da
economia.
Talvez desta
vez quem esteja a revelar melhor capacidade de análise sejam as agências de rating (tanto mais que no caso português
a situação de endividamento e o rácio dívida/PIB continuam a degradar-se, como
se infere da afirmação que estará a «DBRS à espera da redução da dívida para
subir "rating" a Portugal»)
e tudo não passe duma situação conjuntural onde se juntam taxas de inflação
negativas com descida de preços de activos como o petróleo (indicador seguro de
quebra na produção) a par com situações geopolíticas de elevada volatilidade
(Ucrânia e Médio Oriente).
Certo é que a
mais errada de todas as interpretações foi a de Passos Coelho, pois não será a
continuidade ou a alternância de governo que alterará a apreciação nem a
situação duma economia empobrecida à força, com os seus principais activos
vendidos a preço de saldo, há muito órfã de qualquer estratégia de desenvolvimento
e na qual o principal motor continua a ser o sector dos serviços.
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