terça-feira, 26 de maio de 2015

O ENGANO DAS TAXAS

Na semana que terminou com a realização na prazerosa e romântica Sintra duma cimeira dos bancos centrais, foi notícia que «Portugal emitiu dívida com taxa negativa». Tanto bastou para ouvirmos as habituais loas e demais declarações dos costumeiros políticos e comentadores, quase todos esquecendo de referir que se tratava duma emissão de Bilhetes de Tesouro (dívida a muito curto prazo) na qual «Portugal paga taxa negativa para se financiar a seis meses».

Os mais atentos, ter-se-ão questionado sobre a razão pela qual as principais agências de rating (Fitch, Moody´s e a Standard&Poor’s) manterão ainda a classificação “lixo” para a dívida pública portuguesa; se afinal os investidores até aceitam pagar para comprar BT´s e, como asseguram alguns comentadores, a situação do país é francamente melhor, será como afirmou Passos Coelho que as «Agências esperam pelas eleições para subir "rating"»? ou pelo contrário a sua apreciação é a mais adequada?


Na realidade o movimento de descida das taxas de juro das dívidas denominadas em euros tem mais a ver com uma situação de excesso de liquidez (a prova é que a descida se verifica apenas nos prazos muito curtos) que com a melhoria dos indicadores económicos ou a convicção dos investidores sobre a segurança das suas aplicações. Para este aumento de liquidez têm contribuído dois factores: o aumento da injecção monetária pelo BCE e a eficácia das políticas de austeridade na concentração da riqueza em sectores cada vez mais reduzidos da economia.

Talvez desta vez quem esteja a revelar melhor capacidade de análise sejam as agências de rating (tanto mais que no caso português a situação de endividamento e o rácio dívida/PIB continuam a degradar-se, como se infere da afirmação que estará a «DBRS à espera da redução da dívida para subir "rating" a Portugal») e tudo não passe duma situação conjuntural onde se juntam taxas de inflação negativas com descida de preços de activos como o petróleo (indicador seguro de quebra na produção) a par com situações geopolíticas de elevada volatilidade (Ucrânia e Médio Oriente).

Certo é que a mais errada de todas as interpretações foi a de Passos Coelho, pois não será a continuidade ou a alternância de governo que alterará a apreciação nem a situação duma economia empobrecida à força, com os seus principais activos vendidos a preço de saldo, há muito órfã de qualquer estratégia de desenvolvimento e na qual o principal motor continua a ser o sector dos serviços.

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