domingo, 28 de outubro de 2012

SERVIÇAIS POLÍTICOS


O desfecho da mais recente cimeira da UE constitui, no anúncio de novo adiamento das decisões, um excelente exemplo do paradigma que parece reger a actividade política na actualidade e que se poderá designar por um servilismo político, traduzido na actuação de políticos que sobrepõem interesses espúrios ao bem comum que se propuseram (pressuposto de candidatura quando a houve) servir.

Na essência, a aprovação da mais recente e decisiva iniciativa para “acalmar os mercados” – o novo mecanismo europeu de supervisão bancária – a par com o simultâneo adiamento da sua entrada em funcionamento para 2014 está ao nível deste paradigma e dos seus principais actores, que sem pejo encenam e apaziguam quezílias e diferendos para enganar os povos europeus.


Integrem a primeira linha, ou não passem de meros intérpretes de bastidores, a generalidade dos políticos europeus revela-se na actualidade cada vez mais preocupada em pugnar por uma agenda pessoal que pela efectiva e empenhada representação dos interesses dos cidadãos; aliás, que outra coisa se pode esperar de comissários escolhidos por via não eleitoral, quando até os dirigentes eleitos não revelam o menor rebuço em ignorar as promessas eleitorais com que se alcandoraram ao poder?

Este fenómeno, duma certa forma de corrupção, tem alastrado dos corredores da Comissão Europeia (órgão não electivo e mais facilmente permeável) para os cenáculos  nacionais, com a agravante destes serem ocupados por eleitos que de forma cada vez mais despudorada sobrepõem os seus interesses pessoais (ou os daqueles de quem esperam vir a receber elevadas contrapartidas “profissionais”) aos dos eleitores. Para se ter uma verdadeira dimensão deste fenómeno (e da sua gravidade) recorde-se a chegada de Durão Barroso à presidência da Comissão Europeia ou de Herman Van Rompuy para a do Conselho Europeu (ambos chefes de governo em exercício que abandonaram as funções para que tinham sido eleitos para ocuparem cargos europeus de nomeação), a substituição do desistente Durão Barroso pelo não sufragado Santana Lopes, a nomeação de Lucas Papademos (ex-presidente do banco central grego e ex-vice presidente do BCE) para a chefia dum governo provisório helénico, ou a do ex-comissário europeu Mario Monti para a direcção do actual governo italiano.

Este tipo de actuação (que, por antítese ao termo anglo-saxónico de “civil servant”, designo por servilismo político) pode ser detectado no âmago do funcionamento das instituições europeias, onde pesa além do tradicional jogo de equilíbrios entre os interesses específicos dos estados-membros, contribuindo para aumentar a morosidade no processo de decisão e agravar a sua qualidade e até já nas instituições dos diferentes estados-membros


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