O desfecho da
mais recente cimeira da UE constitui, no anúncio de novo adiamento das
decisões, um excelente exemplo do paradigma que parece reger a actividade
política na actualidade e que se poderá designar por um servilismo político, traduzido
na actuação de políticos que sobrepõem interesses espúrios ao bem comum que se
propuseram (pressuposto de candidatura quando a houve) servir.
Na essência, a
aprovação da mais recente e decisiva iniciativa para “acalmar os mercados” – o novo
mecanismo europeu de supervisão bancária – a par com o simultâneo adiamento da
sua entrada em funcionamento para 2014 está ao nível deste paradigma e dos seus
principais actores, que sem pejo encenam e apaziguam quezílias e diferendos
para enganar os povos europeus.
Integrem a
primeira linha, ou não passem de meros intérpretes de bastidores, a
generalidade dos políticos europeus revela-se na actualidade cada vez mais
preocupada em pugnar por uma agenda pessoal que pela efectiva e empenhada
representação dos interesses dos cidadãos; aliás, que outra coisa se pode
esperar de comissários escolhidos por via não eleitoral, quando até os
dirigentes eleitos não revelam o menor rebuço em ignorar as promessas
eleitorais com que se alcandoraram ao poder?
Este fenómeno,
duma certa forma de corrupção, tem alastrado dos corredores da Comissão
Europeia (órgão não electivo e mais facilmente permeável) para os cenáculos nacionais, com a agravante destes serem ocupados por eleitos que de forma cada
vez mais despudorada sobrepõem os seus interesses pessoais (ou os daqueles de
quem esperam vir a receber elevadas contrapartidas “profissionais”) aos dos
eleitores. Para se ter uma verdadeira dimensão deste fenómeno (e da sua
gravidade) recorde-se a chegada de Durão Barroso à presidência da Comissão
Europeia ou de Herman Van Rompuy para a do Conselho Europeu (ambos chefes de
governo em exercício que abandonaram as funções para que tinham sido eleitos
para ocuparem cargos europeus de nomeação), a substituição do desistente Durão
Barroso pelo não sufragado Santana Lopes, a nomeação de Lucas Papademos (ex-presidente
do banco central grego e ex-vice presidente do BCE) para a chefia dum governo provisório
helénico, ou a do ex-comissário europeu Mario Monti para a direcção do actual governo
italiano.
Este tipo de
actuação (que, por antítese ao termo anglo-saxónico de “civil servant”, designo por servilismo político) pode ser detectado
no âmago do funcionamento das instituições europeias, onde pesa além do
tradicional jogo de equilíbrios entre os interesses específicos dos
estados-membros, contribuindo para aumentar a morosidade no processo de decisão
e agravar a sua qualidade e até já nas instituições dos diferentes
estados-membros
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