sábado, 20 de outubro de 2012

CONSENSOS


Aos dias sucedem-se as semanas e infelizmente o centro de todas as atenções nacionais continua a ser uma clara situação de emergência nacional, que ao contrário doutras épocas, quando o perigo vinha do vizinho ibérico e era facilmente identificável, assume hoje um aspecto mais difuso e conta com poderosos aliados internos para melhor se mascarar.

O país poderá não estar ocupado ou sequer sitiado por um exército, mas as suas instituições revelam-se claramente submetidas a interesses que de modo algum podem se aproximados com o da esmagadora maioria dos cidadãos, a ponto de não haver hoje medida governamental que não seja justificada pela necessidade de cumprir o Plano de Auxílio Económico-Financeiro determinado pela “troika” (FMI, BCE e FEEF) que representa os credores.

Num “post” anterior (que intitulei, por versar sobre as falhas dos modelos do FMI e do ministro Vítor Gaspar, «DESACERTOS») aludi ao historial da influência do FMI nas economias onde lhe concederam liberdade de actuação. Nessas, como agora sucede nos países europeus intervencionados (Grécia, Irlanda e Portugal), ficou claro o efeito destrutivo dos princípios advogados pelo FMI, que desde a última década do século passado é conhecido como o Consenso de Washington e que podem ser resumidos nas seguintes linhas de actuação:
         reforma fiscal;
         redução dos gastos públicos;
         desregulamentação e liberalização do mercado;
         abertura ao investimento estrangeiro;
         privatizações;
que facilmente se reconhecem nas políticas seguidas pelos governos de José Sócrates e de Passos Coelho (para só referir os mais recentes).

O organismo encarregue de impor a aplicação das linhas programáticas que foram responsáveis pela preparação do terreno para a expansão da globalização a países do Sudoeste Asiático, da América Latina e da Ásia, continua hoje a desenvolver a mesma actividade (embora os seus dois últimos directores-gerais, Dominique Strauss-Khan e Christine Lagarde, tenham dado voz a alguma suavização programática e até já se diga que o «FMI reconhece que calculou mal o impacto da austeridade na economia») agora a par com um BCE e uma Comissão Europeia, onde pontificam teses ainda mais ortodoxas que as do próprio FMI, a ponto de haver já quem se lhes refira como o Consenso de Berlim.

Consenso onde tudo se resume ao dogma das virtualidades do equilíbrio orçamental e os seus seguidores não hesitam sequer em defender em público as maiores barbaridades (de que o célebre conselho formulado por um deputado alemão para que o governo grego vendesse algumas das ilhas do Mar Egeu para liquidar as suas dívidas é um claro exemplo) e em fazer tábua rasa do mais elementar e básico princípio económico: o de que na origem e destino de tudo se encontram pessoas!

Entalados entre dois Consensos, esmagados por vagas sucessivas de políticas de austeridade, os países da Europa do Sul parecem cada vez mais condenados à queda num abismo que todos negam, mas os cidadãos sentem cada vez mais próximo...


e que nem a aparente revisão proposta por Chritine Lagarde, quando anunciou que o «FMI pede travão à austeridade na Europa», pode ser encarada como perspectiva viável duma efectiva reformulação da abordagem à crise, pois pouco tardou para que sobreviesse a costela calvinista do ministro alemão das finanças e se ficasse a saber que «Schäuble critica abertura de Lagarde para suavizar austeridade».

É claro que o tempo, a agudização da crise e a propagação da recessão até à Alemanha acabará por fazer com que Schauble e os demais monetaristas neo-liberais invertam a sua estratégia, mas então será demasiado tarde para todos... e a Europa poderá ser não já o tão apregoado lugar de paz mas o palco de mais que o mero cenário da luta diária dos cidadãos pela sobrevivência.

Sem comentários: