A mais recente
cimeira europeia trouxe alguma novidade além das habituais promessas e dos
resultados dúbios?
A julgar pelas
reacções imediatas das bolsas europeias, houve quem não hesitasse em escrever
que «Cimeira
europeia desilude investidores», porém, outras leituras podem e devem ser
feitas dos fracos resultados duma cimeira anunciada com o principal fito de
acordar a criação dum mecanismo europeu de supervisão bancária; é que embora
formalizada aquela iniciativa, o arranque da sua actividade foi relegada para
2014, deixando clara uma crescente distanciação entre Paris e Berlim, quaisquer
que sejam as diplomáticas declarações dos participantes.
As declarações
de responsáveis franceses e alemães, anteriores ou posteriores à cimeira, mais
não têm feito que confirmar uma nova realidade: a «Austeridade
já não é consensual na Europa».
Não vão ainda
longe os tempos em que o eixo Paris-Berlim (personificado nas figuras de Sarkozy
e Merkel) parecia firme, algo impossível de manter quando na véspera da cimeira
chegou de Berlim a notícia que «Merkel
quer poder de veto europeu a orçamentos nacionais», numa espécie de réplica
à declaração que François Hollande produzira em defesa duma nova política para
combater a crise, onde afirmou que «Chegou a
hora de oferecer aos portugueses uma perspectiva que não seja só de austeridade»
e que implica a formulação de novas perspectivas para o funcionamento da UE,
tanto mais quanto são notórias as diferenças entre uma Alemanha que se quer
reconhecida como o motor económico perante uma França forte no seu poder
militar.
É verdade que,
duma forma ou outra, quando se fala de governação europeia acaba-se a referir
aquela que continua a ser, no entendimento de muitos, uma das principais pechas
da UE e, quiçá, responsável em boa medida pelas dificuldades que atravessamos:
a ausência duma estrutura militar unificada e operacional.
É verdade que,
duma forma ou outra, quando se fala de governação europeia e das dificuldades
que atravessamos, acaba-se a apontar responsabilidades à ausência duma
estrutura militar unificada e operacional. Esta lacuna e a urgência na sua
reparação têm sido abordadas em vários “posts”,
quer de natureza fundamentalmente económica (ver por exemplo «OS
DEZ PROBLEMAS DO EURO», «AINDA
KRUGMAN» ou «COMO COMBATER O HORROR ECONÓMICO») quer
doutra (como foi o caso de «O
SMO, A UNIÃO EUROPEIA E PORTUGAL», onde já em Novembro de 2006 defendia a
necessidade de complementar o processo de criação da moeda única com o do
exército único), mas o arrefecimento nas relações Paris-Bona deverá continuar a
adiar uma solução que além de tardia poderá, como tantas outras negociadas até
à exaustão, acabar por se revelar inconsequente.
Isso mesmo
poderá acontecer com as permanentemente anunciadas, mas nunca efectivamente
aplicadas, medidas para combater a chamada crise da dívida pública denominada
em euros, que graças ao dogmatismo dos neoliberais apólogos das virtudes da
austeridade se têm limitado a acrescentar recessão económica ao problema
inicial, sem fim à vista nem recuperação económica que proporcione meios para a
normal liquidação das dívidas públicas.
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