quarta-feira, 24 de outubro de 2012

A AUSTERIDADE JÁ NÃO É CONSENSUAL NA EUROPA


A mais recente cimeira europeia trouxe alguma novidade além das habituais promessas e dos resultados dúbios?

A julgar pelas reacções imediatas das bolsas europeias, houve quem não hesitasse em escrever que «Cimeira europeia desilude investidores», porém, outras leituras podem e devem ser feitas dos fracos resultados duma cimeira anunciada com o principal fito de acordar a criação dum mecanismo europeu de supervisão bancária; é que embora formalizada aquela iniciativa, o arranque da sua actividade foi relegada para 2014, deixando clara uma crescente distanciação entre Paris e Berlim, quaisquer que sejam as diplomáticas declarações dos participantes.


As declarações de responsáveis franceses e alemães, anteriores ou posteriores à cimeira, mais não têm feito que confirmar uma nova realidade: a «Austeridade já não é consensual na Europa».

Não vão ainda longe os tempos em que o eixo Paris-Berlim (personificado nas figuras de Sarkozy e Merkel) parecia firme, algo impossível de manter quando na véspera da cimeira chegou de Berlim a notícia que «Merkel quer poder de veto europeu a orçamentos nacionais», numa espécie de réplica à declaração que François Hollande produzira em defesa duma nova política para combater a crise, onde afirmou que «Chegou a hora de oferecer aos portugueses uma perspectiva que não seja só de austeridade» e que implica a formulação de novas perspectivas para o funcionamento da UE, tanto mais quanto são notórias as diferenças entre uma Alemanha que se quer reconhecida como o motor económico perante uma França forte no seu poder militar.

É verdade que, duma forma ou outra, quando se fala de governação europeia acaba-se a referir aquela que continua a ser, no entendimento de muitos, uma das principais pechas da UE e, quiçá, responsável em boa medida pelas dificuldades que atravessamos: a ausência duma estrutura militar unificada e operacional.

É verdade que, duma forma ou outra, quando se fala de governação europeia e das dificuldades que atravessamos, acaba-se a apontar responsabilidades à ausência duma estrutura militar unificada e operacional. Esta lacuna e a urgência na sua reparação têm sido abordadas em vários “posts”, quer de natureza fundamentalmente económica (ver por exemplo «OS DEZ PROBLEMAS DO EURO», «AINDA KRUGMAN» ou «COMO COMBATER O HORROR ECONÓMICO») quer doutra (como foi o caso de «O SMO, A UNIÃO EUROPEIA E PORTUGAL», onde já em Novembro de 2006 defendia a necessidade de complementar o processo de criação da moeda única com o do exército único), mas o arrefecimento nas relações Paris-Bona deverá continuar a adiar uma solução que além de tardia poderá, como tantas outras negociadas até à exaustão, acabar por se revelar inconsequente.

Isso mesmo poderá acontecer com as permanentemente anunciadas, mas nunca efectivamente aplicadas, medidas para combater a chamada crise da dívida pública denominada em euros, que graças ao dogmatismo dos neoliberais apólogos das virtudes da austeridade se têm limitado a acrescentar recessão económica ao problema inicial, sem fim à vista nem recuperação económica que proporcione meios para a normal liquidação das dívidas públicas.

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