quarta-feira, 17 de outubro de 2012

O SEBASTIÃO DE SÃO BENTO


É bem possível que as estas horas Passos Coelho, qual personagem de telenovela, já se tenha interrogado repetidamente sobre que mais lhe irá acontecer…

É que, passada a euforia duma vitória eleitoral anunciada e sustentada em prometidos “cortes na gordura do Estado”, depois de termos ficado a saber que para a aliança PSD/CDS as gorduras eram afinal os funcionários públicos e das primeiras decisões orientadas para o bolso dos contribuintes (aumentos do IVA, dos transportes e da energia), Passos Coelho e a sua equipa (assessorados pelos especialistas do FMI e escorados nos dogmas da inevitabilidade das medidas e da inexistência de alternativas) pouco tempo beneficiou da surda revolta que as suas opções políticas prenunciavam. Aos primeiros remoques do “amigo” Seguro – que as vozes dos gerónimos, por mais louçãs que sejam, não chegavam aos céus – ainda contou com apoio da clique que promovia, o pior é que de aperto em aperto Passos Coelho tudo conduziu até a um ponto onde o retorno se tornava cada vez mais difícil.


Cada vez mais ensimesmado nas suas crenças naturais (como a da superioridade da livre iniciativa e a da bondade dos mercados), insistindo na repetição dos novos mantras da competitividade e da produtividade, desgastado pelo imperdoável episódio académico do seu braço-direito, começou a enfrentar as primeiras críticas da sua própria base de apoio e tanto mais preocupantes quanto estas não paravam de se avolumar.
Não bastando o quase diário vexame de ouvir mandar o Relvas estudar, eis que o pouco verniz que restava estilhaçou face à evidente impreparação política e de desastrado anúncio em catastrófica entrevista, Passos Coelho e os restantes ministros transformaram-se de impolutos saneadores do nacional despesismo em acossadas figuras da sanha popular. Culminando com uma manifestação que trouxe às ruas das principais cidades do País um milhão de cidadãos, até os mais recatados e seráficos barões do PSD passaram a zurzir um primeiro-ministro enleado entre convicções, interesses ou simples trapalhadas.

Depois de, do alto das suas cátedras televisivas, Marcelo Rebelo de Sousa ter começado há algumas semanas a deixar um ou outro comentário mais ácido e Marques Mendes dizer do último anúncio de revisão do IRS que «Governo fez “ataque à mão armada” aos portugueses», de se terem ouvido outras personalidades como os ex-presidentes Ramalho Eanes, Jorge Sampaio e Mário Soares (este num contundente artigo de opinião no DN), António Vitorino, Mota Amaral, Bagão Félix ou Diogo Freitas do Amaral, foi agora a vez de se ler que «Ângelo Correia diz que “falta estudo” a Passos».

Imagine-se, até o mentor e grande responsável pela sua promoção a líder do PSD vem agora lamentar a falta de preparação do seu pupilo… O despudor é o despautério de mais este “fazedor de reis” que apenas agora terá percebido que andou anos a fio a cultivar uma versão caseira dum pequeno frankenstein que, a julgar pelas críticas agora tecidas, não controla mais.

Abertamente criticado na rua, apupado (ele e os membros do Governo) onde quer que vá, acossado pela comprovada falência do modelo de Vítor Gaspar e da “troika” para resolver a crise, em situação de completo descrédito até entre a classe política, Passos Coelho arrasta-se enquanto se interroga sobre o que mais lhe irá acontecer mas arrasta consigo todo um Povo... até ao dia em que este realize que a solução para os seus problemas não está exclusivamente nas mãos da classe política.

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