É bem possível
que as estas horas Passos Coelho, qual personagem de telenovela, já se tenha
interrogado repetidamente sobre que mais lhe irá acontecer…
É que, passada
a euforia duma vitória eleitoral anunciada e sustentada em prometidos “cortes
na gordura do Estado”, depois de termos ficado a saber que para a aliança
PSD/CDS as gorduras eram afinal os funcionários públicos e das primeiras
decisões orientadas para o bolso dos contribuintes (aumentos do IVA, dos
transportes e da energia), Passos Coelho e a sua equipa (assessorados pelos
especialistas do FMI e escorados nos dogmas da inevitabilidade das medidas e da
inexistência de alternativas) pouco tempo beneficiou da surda revolta que as
suas opções políticas prenunciavam. Aos primeiros remoques do “amigo” Seguro –
que as vozes dos gerónimos, por mais louçãs que sejam, não chegavam aos céus –
ainda contou com apoio da clique que promovia, o pior é que de aperto em aperto
Passos Coelho tudo conduziu até a um ponto onde o retorno se tornava cada vez
mais difícil.
Cada vez mais
ensimesmado nas suas crenças naturais (como a da superioridade da livre
iniciativa e a da bondade dos mercados), insistindo na repetição dos novos
mantras da competitividade e da produtividade, desgastado pelo imperdoável
episódio académico do seu braço-direito, começou a enfrentar as primeiras
críticas da sua própria base de apoio e tanto mais preocupantes quanto estas
não paravam de se avolumar.
Não bastando o
quase diário vexame de ouvir mandar o Relvas estudar, eis que o pouco verniz
que restava estilhaçou face à evidente impreparação política e de desastrado
anúncio em catastrófica entrevista, Passos Coelho e os restantes ministros
transformaram-se de impolutos saneadores do nacional despesismo em acossadas figuras
da sanha popular. Culminando com uma manifestação que trouxe às ruas das
principais cidades do País um milhão de cidadãos, até os mais recatados e
seráficos barões do PSD passaram a zurzir um primeiro-ministro enleado entre
convicções, interesses ou simples trapalhadas.
Depois de, do
alto das suas cátedras televisivas, Marcelo Rebelo de Sousa ter começado há
algumas semanas a deixar um ou outro comentário mais ácido e Marques Mendes
dizer do último anúncio de revisão do IRS que «Governo
fez “ataque à mão armada” aos portugueses», de se terem ouvido outras
personalidades como os ex-presidentes Ramalho Eanes, Jorge Sampaio e Mário
Soares (este num contundente artigo
de opinião no DN), António Vitorino, Mota Amaral, Bagão Félix ou Diogo Freitas do Amaral, foi agora a
vez de se ler que «Ângelo
Correia diz que “falta estudo” a Passos».
Imagine-se,
até o mentor e grande responsável pela sua promoção a líder do PSD vem agora
lamentar a falta de preparação do seu pupilo… O despudor é o despautério de
mais este “fazedor de reis” que apenas agora terá percebido que andou anos a
fio a cultivar uma versão caseira dum pequeno frankenstein que, a julgar pelas
críticas agora tecidas, não controla mais.
Abertamente
criticado na rua, apupado (ele e os membros do Governo) onde quer que vá,
acossado pela comprovada falência do modelo de Vítor Gaspar e da “troika” para
resolver a crise, em situação de completo descrédito até entre a classe
política, Passos Coelho arrasta-se enquanto se interroga sobre o que mais lhe
irá acontecer mas arrasta consigo todo um Povo... até ao dia em que este
realize que a solução para os seus problemas não está exclusivamente nas mãos
da classe política.
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