terça-feira, 20 de março de 2012

PARAR OU IR ANDANDO?


Talvez hoje, a escassas 48 horas dum dia de Greve Geral, haja ainda quem equacione qual a atitude a tomar; decidir sobre a participação ou não numa greve não é coisa que se faça levianamente e ainda menos sem o conhecimento das razões e dos objectivos.


Os humoristas até poderão “brincar” um pouco com a questão, já dos comentadores políticos se deveria esperar (e exigir) outra atitude que não a de mera anuência ou crítica (mais ou menos assumida conforme a sua própria orientação política); evocar, como fez há dias Marcelo Rebelo de Sousa, a ideia da banalização da greve constitui além dum mau serviço um convite ao alheamento público das questões fundamentais do nosso próprio dia-a-dia. 

Alguém poderá negar a existência de profundas razões para que os assalariados deste país se manifestem contra a política laboral e salarial que o governo de Passos Coelho e Paulo Portas pretendem ver aplicada?

Será admissível que quando atravessamos, no dizer dos nossos governantes, uma grave crise que a todos exige esforços e sacrifícios assistamos à consagração da primazia e sacralidade de todos contratos – nomeadamente dos célebres contratos das PPP e demais garantias e salvaguardas empresariais – salvo os contratos de trabalho?

Depois da decisão unilateral de reduções salariais e demais cláusulas laborais (como férias, trabalho extraordinário, etc.) e da redução de pensões e outros benefícios sociais (como o subsídio de desemprego, precisamente quando ele era mais necessário para minimizar os efeitos do aumento do desemprego), quando se constata que já não é apenas a contratação colectiva o objecto do empenho reformista do actual governo mas que até já o próprio contrato social está em vias de se transformar numa mera memória difusa, ainda restarão dúvidas sobre a necessidade duma reacção e duma contestação a tudo isto?

A dúvida que verdadeiramente me assalta não se prende com as razões para a adesão à greve; a minha verdadeira dúvida é porque esta tardou e porque é traduzida em algo tão inócuo como um dia de paralisação? Os fundamentos desta greve, a destruição sistemática das melhorias sociais introduzidas pelo fim do Estado Novo, justificam bem um esforço maior e, ao contrário do que pretende Marcelo Rebelo de Sousa e parece sugerir a caricatura de Henrique Monteiro, ao invés de ir andando é por vezes preciso parar um país durante o tempo necessário para este pensar e tomar o melhor rumo.

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