De passagem por Nova Delhi, a directora-geral do FMI não se coibiu de assegurar, numa intervenção onde misturou sinais contraditórios, que «O mundo escapou ao “abismo” financeiro». Repetindo o essencial do que dissera uns dias antes em Pequim, onde foi deixar o recado que a «China deve reformar a sua economia», Christine Lagarde referiu as fragilidades que ainda persistem no sistema financeiro e que estarão (no seu entendimento) a condicionar a plena recuperação das economias, a par com o efeito de catalisador da mudança criado pela própria crise.
Para quem lhe atribua especial importância poderá parecer que o FMI está a sinalizar o princípio do fim da crise (em sintonia com o reiterado discurso dalguns políticos), embora quem se tenha dado ao cuidado de reflectir além do ouvido (e lido) facilmente poderá concluir que o que fez a ex-ministra das finanças francesa foi reafirmar a importância das mudanças impulsionadas pelas políticas de austeridade aplicadas no espaço europeu, ou seja, defender os princípios que são caros a organizações globalistas como o FMI e repetir mitos como o da destruição regeneradora.
Na verdade o FMI e os seus “especialistas” têm-se desdobrado em afirmações e apelos contraditórios; ora forçando a aplicação de modelos destruidores das economias domésticas em benefício do mercado global, ora lembrando beatificamente que os governos precisam de acautelar o crescimento económico, tecem uma teia da qual dificilmente se libertarão as economias mais débeis. Falam em recuperação e no fim da crise como se os indicadores não continuassem a apresentar resultados insatisfatórios, nomeadamente sinais de que a «Recuperação económica dos EUA ainda é débil e vulnerável ao exterior», isto quando cresce o sentimento de que a economia norte-americana apenas se consegue refinanciar graças ao facto da sua moeda ainda subsistir como meio internacional de pagamento e do “exterior” surgem sinais pouco tranquilizadores como o de que os «Dados económicos na China e Europa penalizam Wall Street».
Tudo considerado será exagero prognosticar, como o fez recentemente o “think tank” europeu LEAP, que o Verão que se aproxima poderá trazer notícias do regresso dos EUA a uma nova fase de recessão (enquanto a Europa estagna e os BRIC desaceleram), repetindo a onda de subida das taxas de juro e de instabilidade nos mercados cambiais e obrigacionistas?
Quando a estes factores se adicionar a persistência no impasse político-militar na questão iraniana ainda parecerá exagero admitir que afinal estaremos apenas a caminhar no sentido de um novo “crash” nos mercados financeiros (potencialmente acelerado pela especulação sobre o preço do petróleo e outras matérias-primas estratégicas) e que boa parte das principais instituições financeiras (bancos, seguradoras e “hedge funds”) poderão soçobrar devido à inquietante situação de escassez de capitais?
Porque os indicadores não são animadores, as perspectivas sociais reduzidas e a incerteza grande, aqui ficam as dúvidas… as dúvidas que os “especialistas” do FMI e quejandos não querem ver porque talvez constituam, afinal, os seus verdadeiros objectivos.
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