Terá sido bonito e reconfortante para qualquer governante português ouvir um especialista do gabarito de Krugman afirmar que «”As coisas estão terríveis aqui, mas na Irlanda estão piores”» ou que «Acredito que a Grécia vai sair da zona euro mas Portugal deve ficar», mesmo acrescentando que lhe parece «Implausível que Portugal regresse aos mercados já em 2013»…
O problema é que as más notícias… as que nenhum governante gosta de ouvir e que normalmente não são reportadas pelos “convidados”, é que o futuro dum país, em especial dum como o nosso, cada vez menos depende de quem o governa.
É duro, mas é verdade! As iniciativas que Passos Coelho e Paulo Portas possam animar, pouco ou nada contribuirão para resolver um problema que, contrariamente ao que os dois afirmam, não resulta apenas das condicionantes internas.
Quando Paul «Krugman pede políticas expansionistas e inflacionistas no centro da Europa» está, no fundo, a chamar a atenção para o facto da solução da chamada crise das dívidas soberanas denominadas em euros residir no interior do seu espaço económico e não na sua periferia. Sem escamotear as responsabilidades (melhor seria falar em irresponsabilidades) dos governos de cada um dos países mais endividados, manda a verdade que se diga que no conjunto a zona euro não apresenta qualquer problema de sobre-endividamento nem de solvabilidade. O que existe é uma incapacidade generalizada de entender que os problemas do vizinho são os problemas do conjunto em resultado duma visão cada vez menos europeísta da zona euro.
Com os resultados que se conhecem, os interesses em torno do dólar americano e da libra inglesa têm manobrado com a mestria suficiente para dividir a própria Zona Euro. Como se não bastassem as reconhecidas debilidades do processo de criação do espaço europeu (nomeadamente a incompreensível inexistência dum exército único) e a gritante falta de democraticidade com que o eixo Berlim-Paris insiste em enfrentar uma crise cujos principais dirigentes (Angela Merkel e Nicolas Sarkozy) se revelam manifestamente incapazes de entenderem além da dimensão orçamental, adiam-se as decisões indispensáveis ao reequilíbrio e à estabilização da única moeda que mostrou capacidade para enfrentar a hegemonia do dólar.
Reflexo disso mesmo são notícias como a de que os «Líderes cancelam cimeira da zona euro por desacordo sobre barreiras a criar contra a crise»; enquanto se anuncia um adiamento nas decisões para final de Março, a Comissão Europeia (o verdadeiro governo comunitário) prima pelo silêncio, ou não fosse Durão Barroso o seu presidente.
A referência a Merkel, Sarkozy e Durão Barroso deve-se não só aos papéis que têm desempenhado na crise, mas principalmente ao facto de se constituírem representantes duma corrente de pensamento político (Partido Popular Europeu, tendência centro-direita que reúne democratas cristãos e conservadores) para o qual a solução económica reside numa austeridade expansionista, perigosamente próxima dum misticismo esotérico, que no plano político tem deixado sem resposta clara a definição do papel geopolítico duma Europa oscilando entre os EUA e a China mas crescentemente desprovida de capacidades político-militares e político-económicas que lhe assegurem qualquer papel relevante na definição do futuro que se desenha.
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