sexta-feira, 9 de março de 2012

FACTO HISTÓRICO


Embora a grande notícia do final da semana tenha sido a de que a «Grécia garante perdão da dívida e evita falência», o tema nacional do momento foi, incontornavelmente, despoletado pelo prefácio dum livro onde «Cavaco acusa Sócrates de falta de lealdade histórica».

No texto, com a costumeira desfaçatez com que sempre branqueia as suas próprias responsabilidades ou não fosse ele o célebre personagem que “nunca se engana e raramente tem dúvidas”, Cavaco Silva endossa para José Sócrates a total responsabilidade pela crise política que levou à demissão do anterior Governo. 


Claramente ressabiado pelo que apelidou de falta de lealdade histórica mas escondendo-se por trás das opiniões expressas pelos partidos com assento parlamentar, decidiu-se pela dissolução da Assembleia e a convocação de eleições antecipadas… com o resultado a que todos hoje assistimos. 

Sobre o potencial interesse próprio na queda do Governo de Sócrates (Cavaco Silva é membro do PSD e um dos seus claros “líderes sombrios”) ou até um claro esclarecimento das razões que o levaram, no Outono de 2009, a empossar um governo minoritário quando a conjuntura económica já era preocupante, o insigne personagem permaneceu silencioso.

Recordar agora a jactância política de José Sócrates, numa fase em que clara e justamente a popularidade do crítico atinge os valores mais baixos de sempre, e quando crescem os sinais de fractura no seio do Governo de Passos Coelho e do partido que constitui o seu principal sustentáculo parlamentar (veja-se que até «Marques Mendes preocupado com polémica do QREN não poupa críticas ao Governo»), podendo não passar duma manobra de diversão constitui seguramente um claro exercício de autojustificação que ninguém lhe pediu. Pior, constitui uma opção imprópria de quem ainda ocupa o cargo (porque a função nunca a soube exercer) de principal figura do Estado, dando espaço às mais díspares reacções de apoiantes e integrantes do anterior Governo, num momento em que o manancial de questões passíveis de debate político é vasto e particularmente importante.

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