sábado, 25 de fevereiro de 2012

A AVALIAÇÃO


Todos sabemos bem demais o que valem as sondagens, mas ainda assim não resisto a comentar os resultados da última sondagem encomendada pela RTP à Universidade Católica sobre o desempenho do governo da dupla Passos Coelho/Paulo Portas e divulgada quando ainda não haviam assentado completamente as cinzas do último Carnaval.


Refiro este facto pela dupla simbologia dum período de festividades ligadas à abundância e ao gozo dos sentidos e do clima de austeridade recessiva imposto pelo actual governo, agravada pela sua ridícula decisão de não autorizar a tradicional tolerância de ponto da Terça-feira Gorda para os funcionários públicos, anunciada a pouco mais de duas semanas do evento. 

Fruto disso ou da insatisfação que há muito se instalou entre a população, da sondagem resultou que a «Maioria dá nota negativa ao Governo» ou de forma ainda mais clara que «6 em cada 10 portugueses dizem que Passos está a governar mal». Mas esta não é uma conclusão fechada nem a única leitura possível do resultado, pois em resposta a uma segunda questão conclui a mesma sondagem que «Governo perde popularidade mas PS não é alternativa».

Esta conclusão parece-me bem mais importante e merecedora de análise que a óbvia reacção desfavorável às políticas ditadas pelos dogmas neoliberais. Mesmo podendo constituir uma mensagem subliminar no sentido de acalmar os menos satisfeitos (caso se considerem os claramente insatisfeitos como casos perdidos), ou simplesmente a constatação de que entre os partido do arco do poder (PSD, CDS e PS) não existem diferenças substanciais que justifiquem as expectativa de mudança na orientação política, tanto mais que o resultado serve perfeitamente os interesses do “centrão” político que nunca poderá negar a responsabilidade de ter conduzido o País ao estado em que se encontra.

Apreciada numa perspectiva menos “situacionista” a sondagem revela afinal que uma larga maioria da população (62%) rejeita a opção política seguida por Passos Coelho e Paulo Portas; ignora-se é como foi colocada a questão relativamente à alternativa.

Se o foi como uma pergunta aberta, do tipo «qual a alternativa?», ou (como é mais provável) de forma mais “simples” «o PS é alternativa?». É que o resultado de qualquer sondagem, inquérito ou referendo, depende muito da forma como as questões são formuladas e este é um excelente exemplo disso mesmo. Afirmar-se descontente com a actuação do Governo e contrapor que o principal partido da oposição não constitui alternativa, não implica, como de imediato é sugerido, a inexistência de alternativas, mas tão-somente que PSD/CDS e PS não constituirão parte da solução.

Ao contrário do habitual, o resultado desta sondagem deve ser escalpelizado (se não o foi já pelos “estrategas” dos partidos do “centrão”) e dela extraídas as conclusões adequadas que, honestamente, as notícias até hoje lidas omitiram ou não deram a adequada relevância.

Insistindo na ladainha da inexistência de alternativas está-se apenas a tentar assegurar que tudo continue na bonomia do costume, que os políticos (do governo ou da oposição) mantenham os discursos vazios de ideias mas bastos em instruções e demais mandos, que os comentadores se limitem ao óbvio e ao fácil, que os jornalistas reportem o oco e esqueçam o conteúdo e por fim, que todos nós continuemos numa existência pacata que garanta a sobrevivência dos anteriores.

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