Procurei na oportunidade deixar claras algumas das dúvidas que prontamente terão assaltado o espírito de muita gente:
- a imoralidade de quem autoriza financiamentos a si próprio ou a familiares;
- a total ausência de ética de quem autoriza esses mesmos financiamentos em condições privilegiadas relativamente ao conjunto dos clientes do banco e às próprias normas gerais de crédito;
A decisão de liquidar a dívida do filho, tardiamente tomada por Jardim Gonçalves, não só não responde às dúvidas anteriores como origina outras: quais os critérios económicos e financeiros em que se fundamentou Filipe Pinhal para declarar o crédito como incobrável? Serão estes os mesmos normalmente utilizados pela banca?
Este novo desenvolvimento longe de esclarecer o imbróglio apenas pode servir para fundamentar nova avalanche de dúvidas e críticas. Se pouca gente duvidará da prática de evidente favorecimento na decisão de contratação de um crédito de montante elevado (cerca de 15 milhões de euros), uma vez que esta operação foi autorizada sem qualquer tipo de garantias, contrariando todas as normas e regras de prudência, será agora ainda maior o número daqueles a quem não restará qualquer dúvida que a polémica decisão de considerar a dívida terá sido tomada em resultado de uma profunda submissão e subserviência hierárquica – quem ousaria enfrentar o todo poderoso Jardim Gonçalves, ou melhor, quem resistiria a não aproveitar a oportunidade para manifestar uma tão profunda prova de servilismo?
Se esta história rocambolesca revela uma leviandade e uma ausência de ética de todos os intervenientes, destrói completamente o mito do rigor de actuação dos bancos e expõe ainda o ambiente que neles grassa (e por analogia no país): aos poderosos tudo é permitido, tanto mais que haverá sempre alguém suficientemente subserviente para facilitar todo o processo.
Mas não este episódio não se revela paradigmático apenas pelas questões que coloca em torno da ética (ou da sua ausência) uma vez que a sua origem está muito para além do simples facto descrito; não fora a luta que se trava nos bastidores pelo poder no BCP e o crescente mal-estar entre os seus trabalhadores e possivelmente nada disto teria vindo a público.
Seguro é que toda esta agitação e as sucessivas notícias em torno de operações bancárias pouco claras são particularmente estranhas e pouco úteis num ramo de actividade onde a descrição é a norma e a confiança é a pedra basilar da actividade; para avaliar os “estragos” que Jardim Gonçalves, os seus pares e os seus opositores estão fazer ao próprio banco basta ler os comentários às notícias que vão surgindo na Internet.
Como medida positiva seria particularmente interessante que os banqueiros e Banco de Portugal atentassem nesta situação e a entidade fiscalizadora produzisse normas e impusesse medidas mais eficazes de fiscalização e prevenção de casos semelhantes (na política como no mundo dos negócios não pode bastar que a mulher de César seja séria, também tem que o parecer), aplicando sanções muito mais pesadas aos prevaricadores.
Quando tanto se fala na investigação de casos de lavagem de dinheiro e no indispensável combate à corrupção, aqui temos um bom exemplo do que nunca poderia ter acontecido… a menos que teses como esta se venham a confirmar.
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[1] Notícias publicadas no DIÁRIO ECONÓMICO, no DIÁRIO DE NOTÍCIAS e no JORNAL DE NEGÓCIOS.
1 comentário:
Ora. Ora! Então não se tá mesmo a ver que o banco de Portugal vai esclarecer isso tudo, ponto por ponto?
Ou não é Vitor Constâncio pago a peso de ouro?
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