Cumpre-se hoje um ano que ocorreu o assassinato da jornalista Anna Politkovskaya. Personalidade profundamente envolvida na vida política russa, declarada oponente do presidente Putin e convicta crítica da guerra na Chechénia, Anna Politkovskaya foi mais uma das vozes jornalísticas silenciadas na Rússia.
A tese oficial do governo de Putin é a de que o assassinato foi organizado por interesses exteriores (chechenos e de oposicionistas russos), argumentação que se baseará no facto da jornalista ter sido uma forte crítica do conflito na Chechénia e de em várias ocasiões ter denunciado muitas das práticas de violação dos direitos humanos que rodeiam aquele conflito.
Independentemente das verdadeiras motivações que possam ter sustentado aquele acto e do inegável facto que Putin não constitui um paladino da democracia nem da liberdade de expressão, o mais importante é recordar que esta prática de silenciamento das vozes mais incómodas não constitui exclusivo de Putin nem da Rússia que governa. Um pouco por todo o mundo o poder continua a julgar-se no direito de silenciar os seus opositores e ainda mais quando aquele não resulta de nenhum processo de exercício mais ou menos democrático.
Se em alguns países, como é exemplo recente Myanmar onde entre as primeiras vítimas mortais dos recentes confrontos se contam dois repórteres fotográficos, a eliminação física de jornalistas ainda é encarada como uma forma simples de limitar o direito à informação (e à indignação), também importa recordar outros acontecimentos, como os que rodearam a morte de jornalistas que cobriam a invasão do Iraque, transformados em alvos pelo simples facto de não estarem a relatar o ponto de vista do invasor.
Esta data não deveria servir apenas para o lançamento de um novo livro da jornalista - Um Diário Russo – no qual esta relata as suas opiniões e convicções relativamente ao governo de Putin, mas também como fonte de reflexão sobre o que todos nós pretendemos que seja o papel da imprensa (e dos seus profissionais) nas sociedades e economias cada vez mais desumanizadas e devastadas por guerras e outras práticas predatórias.
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