Esta sigla,
que significa Serviço Militar Obrigatório e foi esquecida há mais de uma
década, parece ter voltado à ribalta com as recentes declarações do ministro da
Defesa que perante um quadro de
manifesta falta de pessoal ousou trazer a ideia a debate.
Aparte a
conhecida posição de apoio do PCP, todo o espectro político nacional parece
continuar a preferir a existência de umas Forças Armadas profissionais e os
líderes da duas principais “jotas”, a do PS e a do PSD, já se manifestaram
frontalmente contra e com pesados argumentos fracturantes. Ivan Gonçalves, da
JS, lembrando que esta intenção não faz parte do programa de Governo,
classificou-a de
“retrocesso civilizacional” e uma “visão passadista”, enquanto Margarida
Balseiro Lopes, da JSD, num
artigo que assinou no DN refere-se-lhe como “fantasmas do passado que
durante anos a fio atormentaram jovens”
Por mim, que
passei há umas décadas pela experiência do SMO, não tenho qualquer dúvida sobre
a quase completa inutilidade do modelo que vigorou até 2004, como nada me
espanta o fracasso duma solução como a actual, com o ónus dos fracos incentivos,
dos baixos salários e da sentença duma precariedade de longa duração que
representam os contratos com a duração de 6 anos, actualmente em vigor.
Completada mais de uma década desde que o
governo de Santana Lopes pôs fim ao chamado Serviço Militar Obrigatório (19 de
Novembro de 2004) que o país está confinado a um sistema de constituição das
suas Forças Armadas baseado na capacidade de atracção dos jovens para o
exercício daquela actividade. Na prática abandonou-se o conceito de “povo em
armas” para passarmos para uma figura muito mais sofisticada – a do mercenário.
Esta opção, seguramente pouco atractiva para os corpos profissionais das Forças
Armadas, que a completa inutilidade que era a prestação de um SMO totalmente
desfasado da realidade não pode justificar, para mais quando era conhecida a existência
de modelos alternativos, salvo para quem nos tem governado que sempre pareceu
muito mais interessado num minúsculo e ineficaz exército que noutra solução.
Exemplos não faltam, de países onde o
serviço militar é obrigatório, mas desenvolvido segundo uma perspectiva
distinta, passando por algo como um treino básico e circunscrito num período
curto de tempo, ao qual se sucedem sucessivos períodos de exercícios regulares,
por exemplo uma ou duas semanas por ano, que asseguram o acompanhamento da
evolução tecnológica do equipamento e simultaneamente garantem a
operacionalidade de todos os participantes até à idade da desmobilização.
Outra questão paralela a estas prende-se
com o dimensionamento das Forças Armadas, que deverá ser adequado às
necessidades e às capacidades do País e não ao número de oficiais generais,
para mais quando ainda há pouco tempo foi notícia que «Mais
de metade dos generais do Exército foram ilegalmente promovidos».
A questão do
regresso, ou não, ao SMO é obviamente uma opção controversa e que não deve ser
tomada num quadro exclusivamente nacional, antes integrada numa estratégia
concertada a nível europeu para a formação dum Exército Único que dotado de material
militar de desenvolvimento europeu (alem das inegáveis vantagens de natureza
táctica e estratégica, somar-se-iam as de natureza económica e as resultantes
da pesquisa, ensaio e produção do equipamento) o que asseguraria um
entrosamento mais fácil e rápido no quadro de um exército europeu e minimizaria
a hipótese de um país não europeu, fornecedor de um qualquer vector,
influenciar a sua operacionalidade. Como claro exemplo desta situação veja-se o
caso da Suécia, país europeu cuja tradicional neutralidade nunca o impediu de
dispor de um exército moderno, eficaz e equipado, exclusivamente, com material
de fabrico próprio (segundo eles a única forma de garantir a sua efectiva
neutralidade).
Assim, a
necessidade de responder a uma situação onde as «Forças Armadas perderam 25% dos efectivos
numa década» que podendo iniciar-se pela revisão das condições materiais e
imateriais actualmente em vigor – não será seguramente por acaso que «Mais de 40% dos militares contratados
admite que a carreira os desiludiu», somando aos fracos incentivos
financeiros, a necessidade de maior progressão na carreira, a urgente
manutenção das instalações e equipamentos militares, outras questões como a sobrecarga
de funções que dificulta
a gestão dos períodos legais de descanso, previstos nos regulamentos
específicos (o que afasta rapidamente os militares recém-chegados, que se
encontram impossibilitados de ir a casa durante longos períodos, por vezes
superiores a 2 meses) e a falta de preparação dos militares para o regresso à
vida civil (formação/mercado de trabalho) – não deverá excluir, à partida,
outras opções, entre as quais se conta, obviamente, o regresso a um Serviço
Militar Obrigatório adequado às necessidades, à expectativa de evolução e ao
perfil actual dos jovens.
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