segunda-feira, 20 de agosto de 2018

FALSAS ALIANÇAS


Aproveito o mais recente artigo de opinião de Diogo Agostinho no EXPRESSO - «A aliança entre o consumo e a poupança» - onde este retoma o tema da associação entre a poupança e o crédito, para reforçar o que escrevi no post anterior «DINHEIRO FÁCIL». 

Ambos, Diogo Agostinho e eu, partimos da observação dos números sobre o crédito em Portugal disponibilizados pelo Banco de Portugal e ambos coincidimos no alerta sobre os riscos do dinheiro fácil, mas enquanto ele direcciona a questão para a relação entre crédito e poupança, eu privilegio o modelo disrupto da criação de moeda.

Diogo Agostinho segue fielmente os conceitos neoliberais que transferem o funcionamento da economia familiar, a que obviamente associa de forma directa a capacidade de poupança à de endividamento (as famílias que não consigam alguma poupança mensal não dispõem de meios para fazer face aos encargos com as dívidas que possam assumir) para macroeconomia, onde as regras do jogo não são assim tão iguais como querem fazer crer.

A sua observação de que o «...custo de vida em Portugal está caro. Muito caro para uma família de rendimentos medianos. A casa, o carro, os filhos, a luz, a água e a comida consomem grandemente os orçamentos familiares. Sobra pouco para poupar. No entanto, as pessoas precisam de viver e querem ter acesso a bens que só alcançam a crédito...» é justa e reflecte precisamente a forma como habitualmente as pessoas pensam... e como se pretende que elas pensem! 

Até mesmo quando afirma que «...se por um lado aumentam os empréstimos para comprar mais bens, mais viagens e mais carros, por outro os salários continuam a não esticar, a não crescer ao ritmo necessário para que sejam os fundos próprios a ser uma parte maior do pagamento das compras de bens duradouros...», no que parece uma clara alusão ao problema dos baixos salários mas apenas serve para introduzir a questão da fraca capacidade de poupança nacional.

É claro que existe uma forte correlação entre os níveis salariais e a capacidade de poupança das famílias e é igualmente evidente que o endividamento excessivo pode constituir um problema fatal para as Famílias, as Empresas e o Estado, mas nada disso, nem as teorizações de Martin Feldstein (professor em Harvard, ex-conselheiro económico de Ronald Reagan, ex-membro do Conselho de Administração da seguradora AIG na época do subprime e indefectível defensor dos princípios do controlo orçamental estrito) invalida a verdadeira razão para o boom do crédito (questão que abordei no post «TENHAM FÉ... MAS PREPAREM-SE PARA O PIOR» ou mais recentemente no artigo «DONDE VEM O NOSSO DINHEIRO?», publicado no Jornal online Tornado) e que assenta na maximização da utilização do princípio da reserva fraccionária.



Mantenho e repito... a transposição do modelo de funcionamento dos grandes agregados Famílias e Empresas para a abordagem do funcionamento do Estado, no que respeita à questão do endividamento, assenta em pressupostos errados, não provados, quer em abordagens empíricas quer práticas, e servirá apenas para escamotear a sua verdadeira finalidade: perpetuar um modelo de privilégio do sistema bancário.

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