Aproveito o mais recente artigo
de opinião de Diogo Agostinho no EXPRESSO
- «A
aliança entre o consumo e a poupança» - onde este retoma o tema da
associação entre a poupança e o crédito, para reforçar o que escrevi no post anterior «DINHEIRO
FÁCIL».
Ambos, Diogo Agostinho e eu,
partimos da observação dos números sobre o crédito em Portugal disponibilizados
pelo Banco de Portugal e ambos coincidimos no alerta sobre os riscos do
dinheiro fácil, mas enquanto ele direcciona a questão para a relação entre
crédito e poupança, eu privilegio o modelo disrupto da criação de moeda.
Diogo Agostinho segue fielmente
os conceitos neoliberais que transferem o funcionamento da economia familiar, a
que obviamente associa de forma directa a capacidade de poupança à de
endividamento (as famílias que não consigam alguma poupança mensal não dispõem
de meios para fazer face aos encargos com as dívidas que possam assumir) para macroeconomia,
onde as regras do jogo não são assim tão iguais como querem fazer crer.
A
sua observação de que o «...custo de vida em Portugal está caro. Muito
caro para uma família de rendimentos medianos. A casa, o carro, os filhos, a
luz, a água e a comida consomem grandemente os orçamentos familiares. Sobra pouco
para poupar. No entanto, as pessoas precisam de viver e querem ter acesso a
bens que só alcançam a crédito...» é justa e reflecte precisamente a forma
como habitualmente as pessoas pensam... e como se pretende que elas pensem!
Até mesmo quando afirma que «...se por um lado aumentam os empréstimos para comprar mais bens, mais
viagens e mais carros, por outro os salários continuam a não esticar, a não
crescer ao ritmo necessário para que sejam os fundos próprios a ser uma parte
maior do pagamento das compras de bens duradouros...», no que parece uma
clara alusão ao problema dos baixos salários mas apenas serve para introduzir a
questão da fraca capacidade de poupança nacional.
É
claro que existe uma forte correlação entre os níveis salariais e a capacidade
de poupança das famílias e é igualmente evidente que o endividamento excessivo
pode constituir um problema fatal para as Famílias, as Empresas e o Estado, mas
nada disso, nem as teorizações de Martin Feldstein (professor em Harvard,
ex-conselheiro económico de Ronald Reagan, ex-membro do Conselho de
Administração da seguradora AIG na época do subprime
e indefectível defensor dos
princípios do controlo orçamental estrito) invalida a verdadeira razão para o boom do crédito (questão que abordei no post «TENHAM
FÉ... MAS PREPAREM-SE PARA O PIOR» ou mais recentemente no artigo «DONDE VEM O
NOSSO DINHEIRO?», publicado no Jornal
online Tornado) e que assenta na maximização da utilização do princípio da
reserva fraccionária.
Mantenho
e repito... a transposição do modelo de funcionamento dos grandes agregados
Famílias e Empresas para a abordagem do funcionamento do Estado, no que
respeita à questão do endividamento, assenta em pressupostos errados, não
provados, quer em abordagens empíricas quer práticas, e servirá apenas para
escamotear a sua verdadeira finalidade: perpetuar um modelo de privilégio do
sistema bancário.
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