Cumprido o
segundo ano de governo e depois três orçamentos aprovados, estou em crer que o
facto mais relevante (e perigoso) para a solução governativa, pejorativamente
apodada de “geringonça”, não foi a calamitosa gestão dos fogos florestais (cuja
responsabilidade, tal o estado de abandono de décadas de omissão política relativamente
ao êxodo populacional do interior e ao desinvestimento na função pública, não
pode ser assacada ao actual executivo), antes o recente episódio em torno da
não aprovação do alargamento da Contribuição Extraordinária para o Sector
Energético (CESE) à produção de energias renováveis, ao que se disse
previamente acordado com o Bloco de Esquerda.
Se no final
terá imperado o pragmatismo, assegurando que a «‘Geringonça’
reúne votos e aprova 3º orçamento de António Costa», não é menos verdade
que, como escreveu Daniel Oliveira em «Uma
traição. Uma nódoa. Um sinal», podem ter-se inviabilizado futuros acordos e
reforçado a ideia que a actual solução governativa não estará mais que a
assegurar o
que se esperava, melhor do que tínhamos, aquém do possível...
Ideia que
vemos confirmada com o anúncio da candidatura de Mário Centeno à liderança do Eurogrupo
e defendida em termos onde o «PS
diz que candidatura de Centeno visa “exportar sucesso” da alternativa política
portuguesa», como se a solução encontrada no Parlamento português não fosse
meramente conjuntural e praticamente impossível de aplicar noutro local e
noutro contexto, como acabamos de assistir no caso alemão, onde já foi confirmado
que a coligação «"Jamaika"
falha, Alemanha vai continuar sem governo».
Mais, uma eventual
consagração de Mário Centeno num organismo sem existência legal (o Eurogrupo, como
sitematicamente se esconde, não tem qualquer enquadramento no ordenamento jurídico
da União Europeia) apenas confirmará a sua conformação aos princípios que estão
a conduzir a UE a um beco sem saída e a assegurar que não será nesta
legislatura que iniciaremos o indispensável processo de renegociação da dívida
pública.
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